Essa parte da thread foi motivada originalmente com base em declarações do presidente do Fluminense, durante uma das inúmeras campanhas para exigir a contratação de uma auditoria Big4. A tradução será pra lá de livre e acredito que as edições resultem em textos bem diferentes.
O texto original dizia que “recentemente, um presidente de clube brasileiro (gestor amador) afirmou que precisaria ter seus documentos arrumados para o clube ser auditado por uma Big4”.
A frase já não é mais tão recente assim, e se na época isso me deixou muito surpreso, pois se tratava de argumento completamente sem sentido. Hoje em dia me causa até certo desprezo, pois é extremamente contraditória com frases subsequentes do tipo que o Fluminense tem o melhor portal de transparência do país.
Esse tipo de frase é semelhante a outras declarações feitas por diferentes e administrações de clubes por vários e vários anos ao serem confrontados com pedidos por auditorias Big4. “Preciso arrumar a casa primeiro e depois ser auditado” é algo que você ouve com frequência. Até os que passam a ser auditados por Big4 se vangloriam de ter arrumado a casa, o que não faz muito sentido quando o assunto é organização de documentos.
Sem organização de documentos, não existe contabilidade. Muito menos auditoria, de Big4 ou não.
Como vimos no post anterior, em nenhum momento o auditor tem acesso aos documentos internos, muito menos imagina se estão organizados ou não. O auditor também não imagina a qualidade real dos controles. Você pode até desconfiar dos mesmos lendo algumas notícias de processos que correm a revelia porque ninguém apareceu, notícias onde se perdem prazos diversos, etc… Mas na prática o auditor só descobre que a casa está desorganizada depois que inicia seus trabalhos.
Francamente, ninguém presume que os documentos de um clube que é auditado regularmente podem estar desorganizados. Suponha que um clube seja auditado, não por escolha, mas no caso brasileiro, de forma compulsória desde 2006.
Os documentos não podem ser desorganizados, afinal, os auditores não apontaram problemas dessa natureza em suas opiniões ao longo de 14 anos.
Ainda que essas auditorias sejam geralmente efetuadas por empresas menores de médio e pequeno porte, mesmo que estejam ligadas a redes internacionais, não são consideradas como as quatro grandes do segmento, as normas são as mesmas.
Se algum clube precisar organizar seus documentos, então todas as suas opiniões até esse “arranjo” teriam que apresentar limitações de escopo ou opiniões negativas, o que raramente acontece. No caso do Fluminense, um clube com pareceres com ressalvas frequentes, nenhuma delas apontou limitação de escopo ou outro problema mais sério que seja fruto de desorganização documental. Pelo menos até hoje.
O resultado prático dessa frase é que o próprio gestor cria um dilema e uma sombra de dúvida sobre a qualidade das auditorias anuais que foram realizadas. Como elas foram executadas se ele precisa até hoje organizar seus documentos?
Não há como dizer que a escolha das firmas menores se baseia no princípio de que são mais tolerantes com os problemas de organização e controle. Seria uma generalização leviana da minha parte ou de qualquer pessoa que use esse expediente em suas críticas. Há outro tipo de argumentação que abordam ajustes do passado e reapresentação de saldos por erros e omissões cometidos, que passaram batidos pela auditoria. Mas isso acontece tanto com empresas de menor porte como em BIg4.
Há um componente de custo substancial na escolha do risco de auditoria, risco de crédito e risco de reputação. Esse mix torna a empresa de menor porte (não Big4) mais atrativa para o futebol brasileiro, como você já deve ter notado.
Mas a própria gestão e seu modelo associativo menosprezam essa escolha em suas narrativas e induzem as pessoas a acreditarem que essas empresas de menor porte são piores que as Big4. Sempre há promessas de contratar um Big4 para auditar clubes, num futuro próximo.Espero que até o final dessa thread, vocês tenham elementos para discernir quem busca melhorias reais e quer ter um selo da Big4 em suas demonstrações financeiras e seus controles internos, dos quesó tem um discurso vazio.
Recordar é viver…
Farei mais duas citações:
“Não se olvide que a liberdade de expressão (de informar, de criticar, etc.) é um dos pilares centrais de uma sociedade democrática. A livre manifestação do pensamento é garantia constitucional, devendo ser assegurada em toda sua plenitude, nos vários veículos de comunicação, inclusive nas redes sociais”, me permitindo uma única alteração: Revue, “no caso concreto”.
No texto original de onde isso foi extraído, ainda há uma nota de rodapé usada:
“A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.” (Art, 220, caput, Constituição da República)‘.
Pois é! Como diz o ditado popular, “Vento que venta lá venta cá”.
STs