Já perdi a conta de quantas vezes expliquei que um serviço prestado não seria uma auditoria. Apesar de todos os aspectos técnicos, não é muito complicado entender as diferenças. No entanto, qualquer esforço para deixar isso claro foi em vão. Os projetos acabaram sendo chamados de auditorias dentro dos clubes, apresentados como auditorias na mídia e tomados como auditorias por todos os torcedores.
Podemos definir momentos distintos na relação dos clubes de futebol brasileiros com firmas de auditoria, já sua história é relativamente recente.
Tudo começou quando a Big6 ainda existiam, mas justamente quando o mercado de auditoria passava pela última onda de concentração.
Lembro que a primeira experiência com um clube de futebol aconteceu quando um deles aderiu a um dos primeiros programas de recuperação tributária do Governo Brasileiro (REFIS). Posteriormente, surgiram oportunidades com a chegada de fundos de investimento em futebol ao Brasil, criando oportunidades de diligência financeira nos clubes.
Em nenhum momento os clubes passaram a ser auditados pela Big6 ou Big4. Foram trabalhos de natureza consultiva. Conforme explicado em edição anterior, era impossível aceitar um clube como cliente de auditoria.
Sempre foi um problema muito além da questão de preço e do risco de crédito, ou mesmo do risco de reputação. Os clubes eram uma zona. Impossíveis de serem auditado, simples assim.
Após essa primeira onda de REFIS e fundos, existe um hiato nessa relação entre os clubes e as Big4 no Brasil, causada por diversos escândalos, CPI, reportagens explosivas, etc…
Enquanto na Europa foram criadas práticas especializadas para acompanhar a profissionalização do mercado do futebol, nos distanciamos bastante dos clubes.
As auditorias anuais foram impostas por lei e, a partir de meados dos anos 2000, esse mercado foi conquistado por pequenas e médias empresas de auditoria. A reaproximação das Big4 ocorreu quando a palavra “AUDITORIA” voltou ao cenário das disputas políticas dentro dos clubes no final dos anos 2000.
Surgiram oportunidades para projetos de diligência financeira, contratadas por gestores eleitos recentemente, que precisavam ter uma ideia mais precisa da situação financeira que estavam herdando. Se algum old school estiver me lendo, isso poderia ser chamado de procedimentos pré-acordados. Na nova visão de múltiplas práticas especializadas dentro das Big4, isso passou a ser chamado de serviço de consultoria.
Em tempo: não foram auditorias!
Nas próximas edições dessa thread vou apresentar o que acredito ser a melhor maneira de resolver os problemas de clube, quem sabe, finalmente ele reunir condições de ser auditado por uma Big4.
Eu entendo que a abordagem em fases é a melhor maneira para ir solucionando gradativamente os problemas de um clube. Mas é preciso destacar que para chegar a soluções práticas, o projeto deve ter uma orientação estritamente técnica e um foco real na profissionalização.Minha experiência nesse segmento é péssima, e vi que a grande maioria dos projetos eram conduzidos politicamente. O resultado prático é que a maioria dos clubes que tentaram melhorar acabaram piorando no médio prazo. Eles tiveram ganhos curtos, algum sucesso esportivo, mas eles se tornaram ainda mais insolventes ou formaram dívidas ainda mais significativas. Tentarei abordar essas questões ao longo das edições futuras.