No primeiro dia de dezembro de 2010, a “revolucionária” candidatura Peter Siemsen teve êxito em sua segunda tentativa seguida de se eleger. Foram 1.726 votos contra 831 (37 nulos e 4 em branco). Sócios futebol ainda não existiam e o colégio eleitoral era composto basicamente por sócios proprietários e contribuintes.
O resultado do pleito permitiu que a chapa vencedora ocupasse as 150 vagas, ou seja, não existiu sequer uma voz destoante no inútil Conselho Deliberativo para brincar de opositor. Foram anos onde o CDIR fez tudo que deu na sua telha, sem qualquer tipo de resistência.
Em outras palavras, nunca existiu nesses 3 anos, alguma força política que questionasse os atos da gestão Peter ou tivesse força para impedir suas decisões.
Você pode estar se questionando o motivo pelo qual uma edição do #GUiAFLUCONOMiCS está tratando de eleições. A resposta é muito simples. Se alguma coisa não foi realizada nessa época, isso ocorreu porque o grupo vencedor assim deliberou. Como tudo que foi feito, contou com apoio irrestrito desse mesmo grupo vencedor.
A imensa maioria dessas pessoas que fizeram parte dessa chapa e desse esforço eleitoral e de defesa da gestão Peter (tanto no primeiro como no segundo mandato), clamam pela realização de uma “auditoria” atualmente. Aliás, clamam por “auditorias” desde que a gestão Peter acabou em 2016 e “descobriram” que o Fluminense estava quebrado. Hoje em dia pedem auditoria até quando acham que o presidente é o sujeito que ficou com a mão amarela quando apareceu aquele cheiro estranho dentro do elevador fechado.
É hora de voltar a noite de primeiro de dezembro de 2010.
Há uma fala do discurso da vitória do Peter muito pertinente a essa thread:
“A primeira medida que vou tomar será organizar uma auditoria. Ela será o marco zero da minha gestão. Quero ter a noção de como está o clube financeiramente, qual o tamanho da dívida e em quais setores do clube ela está”.
Para quem duvida, isso pode ser comprovado nesse link.
Essa auditoria nunca aconteceu. Ao final do seu mandato, temos outra declaração do Peter sobre essa falsa promessa:
“Quando entrei no Fluminense, não queria saber de caçar as bruxas. Eu não queria ficar arranjando culpados. Tanto que orientei que aprovássemos as contas do Roberto Horcades [ex-presidente]. Tinha uma auditoria interna qualificada, apenas mantive”.
As contas do Horcades não foram aprovadas e ele foi culpado por tudo. Desde a campanha e durante todos os 6 anos de gestão do Peter. O termo “herança maldita” foi criado para se referir a gestão Horcades.
Peter realmente queria evitar uma caça as bruxas?
Que auditoria interna é essa? Alguém conhece algum auditor interno do Fluminense? Essa auditoria interna disponibiliza algum relatório? Ela subsidiava o Conselho Fiscal? O sucessor do Peter foi o presidente do seu conselho fiscal. Ele sabia da existência dessa auditoria interna? Como ele pode ser surpreendido presidindo o CFIS e auxiliado por uma auditoria interna?
Será que isso tudo realmente existiu?
Por longos 6 anos, toda pessoa que não concordava com o Peter e seu grupo de apoio era taxadas de invejosa, de ser do contra, de fazer parte de grupos de oposição e que deveria montar chapas e vencer o pleito se quisesse ser ouvido ou atendido. Naquela época ainda não existia esse termo “hater”.
Não vou tirar o mérito desse argumento do grupo de apoio. De fato, 90% das pessoas que fazem críticas dentro do modelo associativo objetivam o poder. Muitos nem tem noção das besteiras que repetem, como no caso desses pedidos de “auditoria”, ou na ignorância refinada nos pedidos de “auditoria empresarial” ou “auditoria operacional”. O modelo associativo é fraquíssimo tecnicamente.
Além de pedirem errado, pedem que o próprio gestor crie elementos para se prejudicar, ou seja, um pleito que abusa da ingenuidade ou explicita que vivemos entre estelionatários eleitorais e seus “marco zero” via “auditorias”.
Mas essas pessoas sempre se aproveitaram que a maioria era de fato oportunista para reduzir todo mundo que criticava a mais um com segundas intenções.
Bom, nem todos poderiam ser taxados de oportunistas.Peter realmente não queria caçar as bruxas?
No primeiro trimestre de 2011, exatamente no dia 2 de março, o CDIR do Fluminense recebeu uma minuta de proposta para a execução de uma diligência financeira e fiscal.
Vejam como é antiga minha luta para convencer as pessoas que não é adequado solicitar “auditorias”.
A diligência solicitada tinha por objetivo auxiliar a nova gestão do Fluminense na avaliação da sua atual situação econômico-financeira, identificar vulnerabilidades em seus processos e controles atualmente existentes no Clube e recomendar melhorias caso sejam identificados riscos que podem expor o Clube a perdas financeiras bem como apurar as dívidas do Fluminense.
Analisaríamos as informações prestadas pelo CDIR e pelos seus colaboradores e assessores e procederíamos indagações referentes às atividades operacionais, de negócios e a dados financeiros do Fluminense.
Aplicaríamos procedimentos de diligência para: (i) a avaliação das informações referentes à posição e ao desempenho financeiro do Clube; (ii) a leitura dos contratos firmados pelo Clube com a finalidade exclusiva de identificar eventuais direitos e obrigações não registradas nos livros (a análise jurídica dos contratos caberá aos seus assessores legais); (iii) a verificação dos controles de salvaguarda dos itens patrimoniais do Clube e dos critérios utilizados para reconhecimento nos livros; e (iv) buscar identificar e quantificar passivos contingentes de naturezas financeira, fiscal e trabalhista.
Os trabalhos das análises financeiras sob o ponto de vista patrimonial seriam conduzidos em data-base de 31 de dezembro de 2010 (a famosa “herança maldita”). As análises sobre os resultados do Clube serão conduzidas com relação aos últimos 3 exercícios fiscais, a saber: 2008, 2009 e 2010.
Caso as constatações iniciais indicassem a necessidade de extensão dos períodos supracitados, a ampliação do escopo seria discutida e acordada previamente com os gestores do Fluminense.
O escopo, que será apresentado na próxima edição do GUIA, traz elementos de sobra para vocês entenderem o motivo do uso da expressão “caça as bruxas”.
A diligência não foi adiante. Nos deram na época diversas desculpas esfarrapadas.
A primeira foi uma questão de custo, mas concomitantemente a negativa dessa proposta, a gestão contratou uma assessoria de comunicação num contrato de valor superior a diligência. Existiam recursos de sobra para pagar a realização da diligência, mas optaram por investir em narrativas, o que até faz algum sentido na medida se a gente pare para pensar que o modelo associativo e seus grupos só se preocupam com projetos de poder. O Fluminense foi e sempre será meio para o modelo associativo.
Outra desculpa foi essa de auditoria interna. Bom, nunca existiu auditoria interna no Fluminense. Na época comentaram que um grupo de conselheiros e participantes do grupo político vencedor realizariam aquele escopo internamente. Isso foi algo um tanto quanto revoltante para muita gente na firma de consultoria, mas o trouxa que tinha escrito aquilo tudo torcia pelo Fluminense nem chegou a se importar muito com a apropriação do seu trabalho. Se fosse executado, seria ótimo do ponto de vista de torcedor.
Eu não levava muita fé que fosse feito a contento, mas não importei muito com o uso não remunerado do escopo.
Na próxima edição vocês poderão ver o quanto difícil é acreditar nessa versão de auditoria interna. E de uma forma geral, nunca foi apresentado resultado desse suposto grupo interno que realizaria a “auditoria” por conta própria.
A terceira e última desculpa talvez nem seja uma desculpa!
Já nesse primeiro trimestre, começaram a surgir brigas e desentendimentos dentro do próprio grupo que debatia o escopo junto a firma de consultoria. Isso talvez seja a ponta do iceberg do real motivo da não realização da diligência. Mas isso é assunto para a próxima edição, exclusivíssima para membros.
Eu posso não ter me importado na época da apropriação pelo CDIR do escopo, mas hoje em dia me odiaria se visse esses pré-candidatos o usando em seus estelionatos eleitorais. Por mais que o escopo em si não possa ser executado pelo modelo associativo, essas pessoas não tem limites em suas falsas promessas. Eu não vou dar asas a cobras, ainda mais para um público que acredita que cobras tem pernas. Essa só os fortes entenderão, nos remetem aos anos de chumbo de 2011-2015, nadando contra a maré.