Quando essa edição foi publicada, as contas de 2020 já tinham sido aprovadas pela imensa maioria. A ala de ativistas da “oposição” estava bradando por auditoria, pois nunca pararam para ler o #GUiAFLCUONOMiCS que publicamos por aqui, ou simplesmente ignoraram que o pleito é equivocado, pois o o que importa é aparecer em redes sociais. Alguns também falaram da necessidade de uma reforma estatutária, mesmo não tendo se esforçado para fazer valer as normas vigentes.
A #DARKSiDEFLUCONOMiCS chegou a um ponto crucial do Fluminense: seu passivo.
Passivo do Fluminense – Introdução
Dívidas dos clubes passaram a fazer parte de pautas midiáticas recorrentes, com rankings de maiores devedores, números cada vez mais alarmantes e muito sensacionalismo.
É óbvio que o tamanho das dívidas dos clubes são uma informação importante. Mas o que é mais importante nisso tudo é mensurar a capacidade que um clube endividado tem para pagar suas dívidas, os famosos índices de liquidez, em todas as suas versões.
Muito mais importante que indexar o passivo para fazer um gráfico de sua evolução histórica, acompanhar o comportamento dos índices de liquidez é muito mais útil.
Tratei desse tema na análise do semestral (#DARKSiDENATL – bloco 6).
O conteúdo está na timeline do Twitter:
Os rankings que publicam por aí desconsideram muito mais que a análise de liquidez. São construídos ignorando um risco latente das dívidas registradas não representarem a realidade dos fatos.
De passivos omitidos a “erros de julgamento’ em contingências, estamos falando de milhões e milhões que tornam esses rankings e a indexações de certa forma inúteis. Ultimamente começaram a trazer análises comparativas com as receitas, o que faz muito mais sentido, mas ainda assim sujeitos a erros e omissões.
Obviamente, os potenciais erros supracitados também afetam o cálculo de índices de liquidez, que também podem ser influenciados por manipulação dos saldos do ativo.
Caímos numa situação onde uma pessoa prática se pergunta: para que perder tempo analisando números que não temos confiança?
Ë uma excelente pergunta. Qualifica todas as análises em imprecisas, mas nesse cenário opaco em que vivemos, podemos definir como premissa que as situações de liquidez retratadas em balanços não confiáveis indicam a “ponta do iceberg”, afinal, ninguém manipula os números em clubes para transparecer uma situação pior que a real.
E essa ponta do iceberg dá a nossa de urgência das mudanças, ajustes, enfim, de restruturação e saneamento de verdade, e não essa falácia noticiada frequentemente.
A #DARKSiDEFLUCONOMiCS começará a análise sobre o passivo do Fluminense analisando a evolução de seus índices de liquidez ao longo do tempo. Construirá cenários a partir do volume de contingências não provisionadas. Discutirá no detalhe essa questão de julgamento profissional, vis-à-vis nosso histórico de perdas.
Na sequência, trarei análises mostrando o crescimento de passivos operacionais, um belo indicativo da falta de liquidez, ou em outras palavras, da asfixia financeira que vivemos e não fazemos absolutamente nada para alterar esse quadro, muito pelo contrário.
Rankings comparativos e evolução da dívida, indexada ou não? Vocês tem isso aos montes por aí. Não há motivo para replicar esse tipo de informação na #DARKSiDEFLUCONOMiCS.
Passivo do Fluminense vs. Liquidez
Vamos dar início a nossa análise sobre a “ponta do iceberg”.
A #DARSiDEFLUCONOMiCS começará a análise sobre o passivo do Fluminense analisando a evolução de seus índices de liquidez ao longo do tempo.
O portal da “transparência” nos permite montar sua evolução desde 2004. Os quatro primeiros anos não contam com parecer de auditoria. A partir de 2008 temos um parecer e ele indica que 2007 também não foi examinado.
O fundo do poço do índice de liquidez ocorreu em 2009, ao longo dessa série histórica calculada com base nos documentos a disposição no portal:
Vamos analisar o que aconteceu ano a ano, mas dois comentários precisam ser feitos na largada.
O primeiro é sobre nosso histórico. Nunca tivemos uma situação minimamente confortável quanto a liquidez desde que os dados passaram a ser disponibilizados na internet. Mesmo nessas “melhoras”, que serão desmontadas ao longo da #DARSiDEFLUCONOMiCS, não tivemos conforto.
Jamais deveriam ter dado vida mansa e parado de cobrar os gestores amadores que parasitaram o Flu. Nunca tivemos indícios fortes de que algo estava melhorando a ponto de ser elogiado, muito pelo contrário.
Ao longo dos anos acabaram “descobrindo” que os números e a narrativa eram diametralmente opostos a realidade. E já era tarde demais, afinal, se a situação financeira é extremamente complexa de ser resolvida a essa altura, imaginem as questões de competitividade que derivam dos efeitos colaterais da crise financeira e sobretudo dos ajustes necessários a resolver a situação de pré-insolvência.
Nos empurraram para outra prateleira, nos tornaram coadjuvantes nos torneios, reduziram nossas expectativas a não cair e quem sabe participar de uma Libertadores, para ter um pouco mais de recursos para ir empurrando nossa bancarrota.
O segundo antecipa alguns questionamentos:
O Fluminense “sobreviveu” a seu pior momento de falta de liquidez em 2009? Em 2009 tínhamos 1 centavo para pagar cada real devido.
Seria alarmismo, nos dias atuais, dizer que estamos em situação de pré-insolvência se já passamos por um momento mais grave no passado?
Essa seria uma leitura do gráfico de forma estúpida e bastante peculiar aos fãs do modelo associativo.
É preciso lembrar da parceria com a Unimed, onde os recursos que sustentavam o futebol, não estavam sujeitos a asfixia financeira do Fluminense. A maioria da receitas (o patrocínio deveria ser contabilizado integralmente) e despesas pertinentes ao futebol profissional simplesmente não transitavam pelos livros contábeis, eram acordos diretos entre jogadores e a patrocinadora.
Até o fim da parceria com a Unimed, os balanços do Fluminense são obras de ficção científica. Refletiam, quando muito, que o clube social e a unidade de negócios olímpicos estavam prestes a falir, mesmo com receitas de TV custeando essas atividades.
Somente a partir de 2015 que o balanço do Fluminense passou a refletir, supostamente de forma íntegra, suas operações de futebol.
Vamos dar um zoom nesse período:
De acordo com o último semestral, estamos na mesma situação do início do pós-Unimed (balanço de 2015).
As análises sobre as flutuações trarão muitos elementos que nos ajudam a entender como o Fluminense vem sendo destruído paulatinamente, através de gestões que enxugam gelo ou tentam apagar incêndios com gasolina.
Eu tenho que partir desde os números não auditados até os mais atuais, passando por todo esse período de parceria com a Unimed que sempre distorceu nossos balanços.
Exigirá mais tempo, mais edições, mas mostrará vários elementos pertinentes a tese que o modelo associativo é extremamente prejudicial ao futebol tricolor. E como as críticas dos ativistas do modelo a quem questionava as gestões do Flu ao longo desse período também ajudaram e muito a agravar nossa situação. Sempre jogaram contra o Fluminense na defesa de projetos de poder. Fazem isso até hoje.
ATUALIZAÇÃO:
Era previsto dar continuidade a essa edição analisando, ano a ano, as flutuações. Mas na época o balanço de 2021 foi publicado, repleto de problemas, que foram relatados em diversas edições a partir de então. Na sequência, tivemos acesso ao plano de pagamento de credores, que resultaram em 6 longas edições.
Se vocês tiverem interesse que o tema seja retomado, por favor sinalizem, por aqui ou pelo Twitter.