Essa edição faz parte de uma pequena thread sobre O PLANO DE PAGAMENTO DE CREDORES do Fluminense.
As últimas duas edições trataram do fluxo de caixa projetado para somente 36 meses e as premissas utilizadas para essa projeção. Depois de tantos problemas potenciais e várias dúvidas, chegou a hora de darmos uma olhada nos felizardos que serão contemplados com o plano de pagamento e as condições planejadas para quitação de mais de 217 milhões de dívidas.
Dívidas que ainda existem apesar da narrativa de pagarem centenas de milhões de dívidas desde que assumiram a gestão do Fluminense e o passivo jamais ter oscilado para baixo em centenas de milhões de 2019 até hoje.
Os três itens listados nos levam a uma constatação muito importante: os mais de 2017 milhões deveriam estar contabilizados no balanço do exercício findo em 31/12/20, afinal, demandas cíveis e trabalhistas efetivamente consolidadas em execução precisam estar provisionadas; demandas trabalhistas em execução provisória devem ser classificadas como de perda provável; e perdas prováveis são contabilizadas, pelo menos no mundo das boas práticas contábeis do nosso multiverso.
Eu não consegui amarrar os valores. Segundo a nota explicativa, teríamos algo em torno de 262 milhões em contingências cíveis e trabalhistas provisionadas em 2020 e, portanto, teríamos uns 44.6 milhões voando nessa história.
Apesar de citar explicitamente que a posição foi atualizada até a última demonstração financeira publicada, eles não conciliaram as listas e tabelas com o balanço auditado e suas notas.
O plano então passa a tratar dos 217 milhões e uns quebrados. Esse é o número mágico a ser saneado. É uma loucura tentar entender essa história!
Uma parte dos valores está atualizado até 31/12/20, pois essa é a demonstração financeira mais recente apensada ao plano:
Embora o texto explicite a data-base num primeiro momento, ficando implícito que são valores pertinentes a última DF publicada, existem alguns quadros da seção seguinte que é indicado 31/12/21.
Aquela confusão básica de sempre.
Mas outra parte está valorizada, segundo palavras do próprio plano, a valores históricos, isto é, sem correção monetária, existindo processos até de 1994.
Não pretendo dar muita visibilidade as listagens, elas nem indicam os nomes dos credores. As pesquisas, ainda que parciais demandam inúmeras considerações e a maioria delas não seria pertinente a essa thread.
As listagens são úteis na análise da capacidade de execução (quitação), uma vez que já existem contestações sobre valores informados. Vocês podem consultar isso em sites de pesquisas de processos.
Aliás, nos 3 clubes cariocas que adotaram esse expediente do RCE, já existem questionamentos sobre a pertinência dos planos, em especial aqueles onde não há SAF. Mas questionamentos dessa natureza ainda não tem prosperado em juízo. As discussões sobre valores listados, por sua vez, indicam que os passivos podem estar de fato subavaliados.
Resolvi então amarrar as listagens com a tabela do plano:
Eu tentei exaustivamente descobrir, cruzando texto, tabela e listagens, o que seria valor histórico, mas não consegui ter certeza e quantificar. Aparentemente, a parte onde foram considerados valores históricos é a de execuções cíveis controvertidas.
Nesse mesmo grupo, há essa questão da apuração por diferença (circulada de vermelho na figura) nos controvertidos, o que indica um risco elevado do montante total do plano estar subavaliado.
Na edição 52 voltaremos a esses problemas potenciais.
E ainda existem contingências consideradas como de perda remota, que a gente nem imagina quanto totalizam e se são realmente remotas.
Antes de irmos para a próxima seção, vamos voltar a Inicial, pois ela traz um extrato de execuções muito interessante:
Quem são esses credores que podem, efetivamente, nos inviabilizar, penhorando um pouco mais de 12 milhões no curtíssimo prazo?
Eis a lista:
A lista começa com um antigo VP de Futebol, passa por alguns processos de um agente que tem pencas de jogadores no profissional e na base, tem calotes relacionados a maior venda de todos os tempos da base (Gerson) e até mesmo a empresa de limpeza que é do mesmo grupo que nos patrocinou por um tempo. Há tanto o que falar sobre esse case de limpeza, um dia voltarei a esse assunto.
Essa lista é muito curiosa. Reflitam. Dá pra tecer ilações até sobre jogador barrado e questionar como figuras que foram chamadas de imprescindíveis parceiros colocam a viabilidade de nossa operação em risco. Quanta insensibilidade dos nossos imprescindíveis parceiros.
Outra coisa que me chama atenção nesse pequeno extrato é a presença de outros clubes de futebol. Aprofundando é possível localizar desde clubes de pequeno porte como esse do extrato, até clube que já foi campeão mundial. Este último, por exemplo, é um dos questiona os valores que constam no plano e suas listagens.
Acho extremamente otimista achar que outros times, que vivem em sua imensa maioria, restrições e/ou necessidades de caixa constantes, oferecerem deságios relevantes.
Até a próxima edição! No dia que as Demonstrações auditadas de 2021 forem liberadas, voltarei a essa edição 51 para comparar os valores do plano com o que aparecer no balanço e notas. Quem sabe assim seja possível se localizar e entender se o plano engloba ou não todas as contingências provisionadas.
Vejam como postergar a divulgação traz benefícios a quem sustenta suas narrativas na opacidade.
Próximas edições…
Os próximos itens do plano (VI e VII) concluirão a thread na próxima edição e terão acesso irrestrito pelo website.
Assinantes receberão em primeira mão e não haverá programação de aviso de nova edição na timeline do Twitter.
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