LEIAM O ESTATUTO… 2/2
O Estatuto é cheio de armadilhas e o conselho deliberativo é o poder que operacionaliza toda “sabotagem” contra mudanças do Fluminense.
É preciso entender sua composição:
Somente quem vive a política do modelo associativo tem noção exata da atual composição do CDEL por grupos políticos. Para o individuo alheio a isso, dá um certo trabalho distribuir as cadeiras por grupos.
Por outro lado, as pessoas trocam de grupos o tempo todo, e esses grupos flutuam de situação para oposição de uma hora para outra.
O site do clube lista 150 conselheiros titulares e 46 conselheiros natos. Há uma história de que as vagas não preenchidas pelos natos foram ocupadas pelos suplentes (50 listados no site) da chapa vencedora.
Confesso a vocês que eu não sei ao certo o que se passa por lá com relação a essas contagens, tenho muito nojo disso tudo e evito me aprofundar nessa parte ainda mais sórdida. E as pessoas não aparecem, então nunca temos noção, aqui de fora, dos contingentes de votos contra e a favor da gestão.
Nós vimos nas edições passadas que esses conselheiros natos têm tudo para ser propensos a não mudar nada.
Há muito espaço a ser ocupado nas 150 vagas de conselheiros natos até a próxima gestão.
Como alguém vira conselheiro nato? O artigo abaixo nos explica isso:
Vamos voltar ao cadastro de 2019.
São 132 pessoas aptas a exercer essa função. Começa a complicar bastante ter votos para aprovar muitas coisas, afinal seriam 44% do colégio eleitoral do CDEL, podendo distribuir benemerência até ocupar as 150 cadeiras (e atingir 50%), se estivem sob risco de extinção.
É muito simples de ser feito, também está no Estatuto, na relação de competências do CDEL no artigo 20:
Vocês lembram de acompanhar alguma dessas concessões de títulos de benemérito? Isso passa completamente desapercebido.
Vamos voltar as 150 vagas, afinal elas podem virar só 135:
150 natos, mais 15 de uma chapa derrotada, representariam 55%. Isso já inviabiliza algumas mudanças. Para inviabilizar tudo, precisam atingir 2/3, ou 200 conselheiros avessos a mudanças. Em outras palavras, achar nas 135, 35 pessoas que mudem de opinião.
Esses números podem mudar bastante em função de frequência. É uma raridade que uma reunião com votação do Conselho Deliberativo conte com a totalidade dos conselheiros. Mais abaixo, discutiremos quóruns mínimos e votos necessários, mas antes vamos nos concentrar na fidelidade dos 135.
E aqui entra uma parte que nunca é discutida formalmente entre esses grupos. E para variar eu tenho um ponto de vista diferente sobre isso tudo.
A quantidade de votos é importante, mas acho que o maior risco está nas pessoas.
É muito complicado você arregimentar 135 ou 150 pessoas que serão inflexíveis quanto a realização de mudanças. Ainda precisa achar 50 suplentes, totalizando 200 “fiéis”.
Além de recrutar esses 200, é preciso que eles frequentem as reuniões para votar, um belo desafio considerando as enfadonhas e circenses reuniões do Conselho Deliberativo. O modus operandisafasta pessoas práticas, com visão empresarial de verdade e experiência corporativa. Afasta até o torcedor comum que tenha bom senso.
O modelo associativo atraí o que há de pior.
Em primeiro lugar, temos políticos profissionais e aspirantes a políticos. E esses políticos tem suas “marmitas”. Confiar em políticos é algo que eu não consigo fazer, ainda mais para tomar decisões amargas, que causarão muita celeuma e desgaste as suas imagens.
Não há consenso em encerrar as demais atividades e se concentrar no futebol, na prática o movimento é mais uma bandeira de ativismo político do que o sentimento de uma maioria. Milhares de pessoas seguem alienadas a isso tudo e suscetíveis a qualquer manobra de comunicação. E temos também milhares de pessoas que acham que tudo deve seguir existindo por tradição, história, importância social etc.
Outro problema recorrente em modelos associativos são os personagens que são criados.
Existem 2 casos aqui: (1) os que inflam seus currículos e experiências, mas na prática não entregam tecnicamente aquilo que vendem e prometem; e (2) os que criam personagens para esconder um verdadeiro cemitério indígena dentro do armário.
Se um gaiato chega sinalizando que tem recursos e está disposto a ajudar, rapidamente entre para o rol de potenciais mecenas. Os integrantes do modelo não podem ouvir falar em dinheiro, rapidamente compram os discursos fabricados, potencializam a capacidade de mecenato e uma grande parcela pensa até em como se dar bem na pessoa física.
As campanhas são cada vez mais caras, o modelo precisa de dinheiro, não olha a origem, e ultimamente nem percebe que pode estar sendo vítima de promessas vazias e personagens fabricados pelos mais diversos motivos, nada nobres.
Na saga que eu estou escrevendo sobre Lavagem de Dinheiro, há um trecho que explica isso tudo. As palavras são da FATF/OECD: “para melhor compreensão, este estudo identifica vulnerabilidades que tornam o setor do futebol atraente para o criminoso. Estas estão principalmente relacionadas com a estrutura, o financiamento e a cultura deste setor”.
É muito complicado confiar tanto no sujeito com uma máscara (e um passado podre), como em quem aceita isso tudo passivamente e até dá força nas ciladas e apoia potenciais pilantras que aparecem.
O mais curioso nisso tudo é que não faltam exemplos no futebol sobre esses golpistas e mentirosos, mas as pessoas continuam a cair como patinhos. Ou então pretendem fazer parte do golpe de alguma maneira.
A certeza é que o modelo associativo jamais irá promover mudanças que tragam benefícios para o Fluminense.
Mas vamos seguir no plano de quem acredita que o modelo possa ser transformado pelo próprio modelo. Mudança no modelo de gestão (isto é, troca de grupos políticos) sem que o modelo associativo seja extinto.
Existem várias formas de ver como se dariam as transformações prometidas.
A única, menos traumática e com maior chance de êxito (utópica) é começar por uma ampla reforma estatutária.
Chegar e ir executando um plano de descontinuidade de unidades de negócios e enxugamento dos quadros, com o Estatuto atual, seria pavimentar seu impedimento em poucos meses.
O Estatuto permite ao Conselhor Deliberativo engessar uma gestão e encaminhar o impedimento de um presidente. O tripé é esse aqui:
- Aprovação do orçamento
- Aprovação de contas anuais
- Aprovação de suplementação orçamentária
Mas não para por aí! Ainda há a opção do impedimento, cada dia mais banalizada.
Itens (c) e (e) são bem amplos, com alta carga de subjetividade.
Há meios de interpretar, por exemplo, que o Fluminense é obrigado a manter atividades de esportes amadores, só para dar um pequeno exemplo.
Prejuízos ao patrimônio? Todos os gestores dão, de uma forma ou de outra, com dolo, por negligência ou mera consequência de situações herdadas de outras gestões. Gestões passadas que contaram com os atuais gestores exercendo funções no Conselho Diretor, Fiscal e Deliberativo.
Voltando a suposta vontade de descontinuar olímpicos: existem milhões de reais envolvidos em indenizações, ociosidade do parque olímpico dentro da sede, isso tudo permite construir com extrema facilidade uma tese de prejuízo ao patrimônio.
Não faltam gatilhos, e. portanto, aquela conta de “150+15+quem muda de opinião”, vira uma bomba relógio.
Reza a lenda que a gestão Abad tinha planos revolucionários para gestão e governança e que abdicou dos mesmos por pressão dos grupos políticos contrários a mudança no status quo. Também atribuem a esses grupos as tímidas alterações do Estatuto que criaram esse sócio futebol me engana que eu gosto, que vota e não se elege.
Bom, o Fluminense não é um clube empresa. O processo de transformação passaria por uma série de situações cobertas pelo Estatuto. Mas nesse primeiro capítulo, o ponto principal está no Artigo 4º:
Além de impactar a transformação em clube empresa, esse artigo nos remete a promessa de fim da unidade de negócios olímpicos.
O que o Fluminense faria com todo parque olímpico da sede? Alienaria?
Como aprovariam isso está definido abaixo (artigo 28)
Aqui parece que os 135 seriam suficientes para aprovar alienações e afins. A meta de quem se opõe seria subtrair 36 conselheiros. A ausência na votação, tão comum, joga a favor do status quo, que também tem como estratégia recorrente, infiltrar elementos nesses grupos. A pessoa nem precisa entrar em conflito e debate, basta não aparecer para votar. Tudo muito cômodo.
Sobre o tripé e os 165 votos, segue um alerta no orçamento. O conselho fiscal sempre encaminha aprovações, salvo raríssimas exceções, todas elas de cunho político. A última manobra política nesse sentido foi parar na Justiça e o presidente cuja contas não foi aprovada, reverteu tudo e com razão.
Mas basta maioria simples para não aprovar o orçamento (151 votos no caso de aparecerem 300 pessoas). Eles teriam potencialmente 165.
Com relação ao Impedimento, já são exigidos 200 votos dos 300. Se aparecerem só 150 votantes (mínimo exigido), bastariam 100. E eles teriam potencialmente 165. Seria mandatório a chapa vencedora reagir com a presença de seus 135 féis escudeiros, mas aí cabe a cada um enxergar e confiar nessa fidelidade, eu já expressei o que penso sobre isso lá em cima.
Só seria factível se a chapa vencedora contasse com 150+50 de conselheiros 100% focados em descontinuar a unidade de negócios olímpicos, concomitante com uma vitória acapachante na eleição, com muita folga na margem, mais que o dobro de votos do segundo lugar.
isso tudo com uma chapa que desafia o status quo e faz todas forças contrárias se unirem.
Não bastaria uma única eleição, o processo de transformação pelo modelo exigiria inúmeras eleições com colégios eleitorais distintos e elevado risco de judicialização.
Enquanto se perde tempo com toda essa masturbação mental sobre chapas e mudanças radicais que esbarrarão em resistência do status quo, devidamente blindado pelo Estatuto. nossa liquidez vai sendo reduzida a pó.
E hoje nosso objetivo de saneamento virou mero coadjuvante em termos de competitividade esportiva.
Enquanto patinamos com gestões ruins e o modelo associativo bate cabeça, propositalmente ou não, nossos adversários vão acumulando riqueza e abrindo o gap de receitas.
Falar em prazo para abdicar das competições para voltar a ganhar títulos daqui a 9 ou 10 anos é pura ignorância. Ou desonestidade intelectual.
O exemplo do Flamengo é atípico. Tentem replicar isso sem as receitas anuais da TV, as bonificações, a deturpada divisão de cotas e as vendas de jogadores potencializadas pela mídia. A conta não fecharia. Se espelhar nesse exemplo, mais uma vez, é ignorância ou desonestidade.
Daqui a 10 anos nosso adversário regional terá faturado a mais uns 12 para 15 bilhões de reais a mais, com gastos qualititavivos no que tange a competitividade. Os demais times de ponta, por baixo, uns 6 bilhões, alguns deles em mecenatos que migrarão para propriedade efetiva dos clubes via SAF.
E nós ainda estaremos pagando dívidas e “fazendo mágica”, sem um quadro de asfixia, mas ainda de restrição orçamentária.
Como competir?
Reflitam.
Um dia eu volto com as soluções possíveis. Como diria um antigo VP que abandonou a atual gestão, vocês ainda não estão preparados para essa conversa. E ela pode ser mal utilizada pelo modelo.
STs (sem ponto com).