Vamos para a terceira parte da thread #DARKSiDE focada em mostrar como os borderôs das partidas de futebol são mera desinformação.
Na primeira parte discutimos que o público pagante informado não é o correto e introduzimos uma questão que implica em pagar maiores valores na taxa cobrada pela Federação.
Na sequencia tratamos de problemas na apuração de receita nos borderôs e na construção dos rankings que estamos acostumados a ver na mídia.
Hoje vamos tentar por alguma luz no obscuro quadro de despesas operacionais, mostrando pela enésima vez nessa thread que os rankings que são construidos anualmente não tem qualquer serventia
APURAÇÃO DA “RECEITA LÍQUIDA”
Partindo da “receita” total da partida (A), que não representa o valor exato encaixado, são deduzidas as despesas operacionais (B). Utilizando como exemplo o borderô da partida contra o Nova Iguaçu, realizada no Maracanã:
Notem que há um quadro adicional de retenções (6), mas ele existe para destacar despesas já elencadas no quadro anterior. Dos 20% de INSS cobrados em algumas rubricas, 11% são retidos.
Isso pode parecer besteira, mas o borderô tem como principal finalidade apurar impostos devidos. Contudo, existem situações onde esse valor também é deduzido na apuração da receita líquida. Esse é um ponto que merece muita atenção.
Se no quadro de despesas indicarem os 9% resíduais, não há efeito. Se há indicação de 20% e as retenções são deduzidas há duplicidade, dando margem a desvios. Em linguajar mais comum, “caixa dois”.
Combinem isso tudo ao fato da receita apurada, após o advento dos programas de sócio torcedor, não serem facilmente conciliadas. Agregue a essa mini caixa de pandora o fato que ingressos também podem ser pagos em espécie. É quase o crime perfeito, já que poucas almas param para fazer testes de somas nesses borderôs.
Vale registrar que em anos e anos compilando borderôs do Fluminense, nunca identifiquei esse problema de duplicidade no quadro de retenções. Mas nas ocasiões que compilei outros clubes, isso apareceu pontualmente.
Como meu foco é o Fluminense, a análise dos borderôes e descontruir a narrativa e os rankings, vida que segue.
CONSIGNATÁRIOS (7)
Jogos que acontecem no Maracanã tem mais uma peculiaridade.
Se a “receita líquida” for positiva, há distribuição de percentuais para consignatários do Maracanã. Isso tem lastro em leis bem antigas.
Eu não vou entrar em detalhes sobre consignatários pois seria uma assunto irritanta e inútil. O ponto pertinente a thread é que sabemos que a receita reportada no borderô não é a receita real. Se a receita não é a real, a receita líquida também não é a correta.
Esses percentuais pagos a consignatários não tem muito lastro na realidade financeira da operação. E nem foi considerado ainda os problemas nas despesas operacionais, como veremos a seguir.
DESPESAS OPERACIONAIS
Os quadros de despesas não são uniformes, variando muito de estádio para estádio. Em alguns não há cobrança de aluguel, as taxas são diferentes, despesas arbitradas variam conforme o porte dos times, até mesmo as taxas de bombeiros são bem diferentes.
Essa falta de uniformidade por si só invibializaria a construção de rankings de receita líquida.
E ainda há muita opacidade. O Maracanã é um dos estádios com maior custo operacional do Brasil e não há como entender com clareza o que leva a isso.
As oito primeiras rubricas eu apelido de “combo FERJ” (8). São compostas pelas suas taxas, a despesa operacional da Federação, o delegado indicado pela Federação e arbitragem, acrescidos de 20% de INSS.
No Estadual, as despesas operacionais da Federação, custo do delegado e arbitragem são diferentes entre clubes pequenos e grandes. Para exemplificar, peguei aleatoriamente o jogo entre Volta Redonda e Audax. A arbitragem custou R$4.350,00, o delegado R$1.770,00 e despesa operacional foi R$2.420,00.
Se fossemos montar um ranking estadual, essa diferença de valores já o tornaria inútil.
Na sequência se destacam duas linhas bem peculiares ao Maracanã: aluguel do estádio e contas de consumo (9). Contas de consumo sempre com números redondos e fixos, o que denota a falta de medição. São valores arbitrados.
Vamos pensar mais uma vez na apuração de resultado operacional: valores arbitrados distorcem qualquer análise, tornam a “receita líquida” ainda mais arbitrada e inviabilizam qualquer tipo de ranking.
As despesas operacionais supostamente reais (10) vem na sequencia, sempre em valores assombrosos. Não há composição dos valores. Quando se comparam custos entre os estádios faltam elementos para análise, mas ainda asssim insistem em reportar receita líquida e fazer rankings.
Outra despesa intrigante é a de credenciamento (11). Ela não é uniforme em todos os borderôs do Estadual. Aliás, me causa certo espanto que haja despesa de credenciamento fixa para cada partida, algo que notoriamente poderia ser otimizado, reduzindo custos. O credenciamento fica por conta de um dos consignatários.
Outro custo incomparável é o de confecção e venda de ingressos (12). Qualquer pessoa que tente entender seu comportamento notará que ele varia demasiadamente, não tendo relação constante nem com ingressos disponíveis, nem ingressos utilizados. Outra caixa preta.
RESUMO DA ÓPERA
Analisando um borderô de forma individualizada, fica claro que receitas e despesas tem vários componentes arbitrados que não condizem com a realidade operacional das partidas. Podem faltar receitas, podem sobrar receitas, existem despesas que não geram desencaixe ou não tem lastro em medições e faturas.
Quando se parte para analisar comparativamente, a situação fica ainda mais rídicula, pois as diferenças e arbitrariedades apresentam flutuações materiais.
E além dessas variações, há problemas notórios de falta de integridade, pois determindas partidas não tem custos de aluguel ou apresentam despesas operacionais muito baixas. Usam a desculpa de estádios próprios, mas a luz da boa prática, custos precisam ser espelhados num documento que se propõem a relatar o resultado financeiro de uma partida de futebol.
Construir rankinks nessas bases não passa de desinformação, cqd.
Se é inexequivel montar os resultados operacionais reais, seria mais honesto envidar esforços para maior transparência e uniformidade. Mas quem desinforma também ganha algo, seja por exposição, seja monetizando conteúdo.
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