Estamos analisando o grupo do ativo não circulante, mas como o boletim anterior já estava enorme, resolvi dividir-lo em duas partes e liberar duas edições seguidas.
É hora de tratar do intangível e do imobilizado. embora sobre o segundo, não há muito o que falar nesse momento.
O que realmente chama a atenção no imobilizado é um fato recente, de queda na despesa de depreciação do segundo trimestre de 2021.
Isso tudo está no Twitter, procurem por #DARKSiDENATL, bloco 5. Foi publicado em 01/09 na @fluconomics.
Intangível
O intangível de qualquer clube poderia subsidiar anos e anos de publicações de uma newsletter, mas para isso, precisamos nivelar o conhecimento de todos.
Existem 3 componentes que formam o saldo do intangível: direitos econômicos sobre atletas profissionais, custos de formação (categorias de base do futebol) e direitos de uso de software (esse eu vou ignorar completamente).
Tentando fugir ao máximo do linguajar contábil que dificulta e muito as pessoas entenderem o funcionamento do intangível e seus efeitos nas demonstrações contábeis, podemos tentar simplificar excessivamente e dizer que ele tenta diluir gastos incorridos ou a incorrer ao longo da duração de seus efeitos.
Ou então, a reconhecer que existem fases pré-operacionais (formação dos atletas na base) e operacionais (contratos de atletas profissionais) e que o tratamento dado a esses gastos precisa ser diferenciado de alguma forma. No primeiro caso isso passa a ser visto com uma espécie de investimento.
Qual o efeito prático disso tudo?
O resultado contábil nunca mais bate com o fluxo financeiro.
Vamos começar pela base.
Quase tudo que é gasto ao longo do ano para sustento das atividades de formação de atletas em Xerém não é apurado no resultado contábil do exercício, mas sim incorporado a uma saldo de ativo intangível. De uns tempos para cá o Fluminense passou até a explicitar isso como um estorno das despesas nos quadros de resultado por segmentos.
Esse saldo de intangível vai ser apropriado ao resultado de forma paulatina e a única situação onde ele é todo reconhecido de uma só vez é nos casos de alienação ou descontinuidade dos atletas.
Exemplificando com o que aconteceu em 2020, com um recorte da nota explicativa 2.3(2) i:
As adições representam todos os custos incorridos na formação de atletas durante o ano. São $11.4mi em gastos que são capitalizados e amortizados seguindo todas as regras descritas na mesma nota. Foram $11.4mi gastos com alojamento, alimentação, transporte, educação, vestuário, assistência médica, comissão técnica, etc., nas categorias de sub-15, sub-17 e sub-20. Existem outros gastos na base que compõe o resultado do exercício corrente diretamente.
O valor de $2.9mi representa jogadores que foram descontinuados, lembrando que só podem ser efetivadas vendas a partir dos 18 anos de idade.
Então, durante 2020, nós perdemos o Investimento em jogadores sub-15 no montante de $479mil, $696mil em sub-17 e podemos ter perdido ou vendido jogadores que geraram uma baixa de $1.7mi.
O valor de $4.3mi transferido representa meramente a reclassificação do custo histórico de formação dos jogadores incorporados ao profissional ou aquela coisa estranha que chamam de time de aspirantes.
O intangível é o pulo do gato para muita narrativa sobre a base. No momento oportuno voltarei a esse tema.
Mas estamos falando de balanço e resultado de 2020. Até o terceiro trimestral o Fluminense destaca a base do futebol profissional, mas no relatório anual resolveu consolidar isso:
Esse lucro CONTÁBIL antes do resultado financeiro diverge do resultado financeiro em $11.4mi que foi adicionado ao intangível. É primordial ter isso em mente, afinal não sobraram $38mi de nossas operações de futebol, mas sim $26.7mi, pelo menos por enquanto, só reconhecendo até aqui os efeitos da capitalização de gastos de formação no exercício.
No momento adequado conciliarei todos esses efeitos e mostrarei a vocês como o mundo real é diferente da contabilidade e diametralmente oposto a narrativa. Tenham paciência.
Vamos voltar aos trimestrais de 2020, para vocês passarem a ter uma ideia mais apurada do que acontece na base:
Vejam como a base opera de forma deficitária, na ótica do fluxo financeiro. Em nove meses foram $10mi de déficit operacional, e se formos criteriosos e excluirmos vendas (receitas extraordinárias), transmissão (é um rateio de valores que na verdade são do futebol profissional) e patrocínio (a base só tem permutas e isso não é receita efetiva em lugar nenhum do mundo), pulamos para uns $20mi negativos a serem financiados, só em 2020.
E isso se explicava com facilidade até setembro de 2020, pois com a abertura nos trimestrais podíamos ver que em 9 meses foram gastos 16 milhões na base. Os transparentes resolveram sumir com essa segregação e o trimestral de 2021 já apresenta a base consolidada com o futebol profissional.
Vocês realmente acham que a base sustenta o Fluminense?
Em publicações futuras vou desmontar essa lenda por completo. Essa edição, por analogia, se equivale as preliminares.
Toda base é deficitária, isso faz parte do negócio. O x da questão aqui é termos real noção quanto é realmente investido, quanto é perdido a cada ano e os custos que carregamos em cada jogador. Mídia, gestores e torcedores fazem contas completamente equivocadas considerando vendas, esquecendo de tudo isso aí que escrevi nessa edição. Fora as vezes que fazem as contas com valores brutos das vendas. Aí é pura má fé de quem desinforma.
Vamos supor que o gasto seja linear e estimar o o custo anual, que foi deliberadamente omitido pelos gestores do Fluminense: mais de $21mi investidos anualmente na formação de atletas é razoável? O volume de perdas com descontinuidade é razoável?
Será que você realmente vende jovens para pagar salários de medalhões? São muitos bodes numa sala minúscula.
Ninguém discute isso e estamos falando de algo primordial para a saúde financeira do Fluminense.
Fechando essa edição, uma breve explicação sobre a parte do intangível relacionada aos atletas profissionais.
Bom, já vimos que parte desse saldo vem dos “sub-fimoses” promovidos. Mas e o resto dos valores? O intangível do Fluminense não para de crescer, já perceberam?
O saldo também reflete os valores “pagos” na aquisição de atletas profissionais (direitos econômicos e/ou federativos). No exercício de 2020, tivemos a aquisição de jogadores a um custo de cerca de $7.3mi, e intermediações sobre essas 3 transações de cerca de $1mi (quase 15% de custos de intermediação).
Se você ficou curioso sobre quem foi comprado e quanto isso nos custou, a nota explicativa informa. Em 2019 com mais clareza, detalhando quem era o intermediário. Em 2020 resolveram omitir:
Esses valores podem ser capitalizados no ativo intangível, podendo causar mais uma diferença de critério na apuração do déficit contábil e o déficit de caixa. O que realmente complica no Fluminense é que eles não costumam honrar esses pagamentos e demoram a constituir provisões e/ou reconhecer perdas dos processos que se originam desses calotes.
Distorce e muito análises sobre resultados. Nunca basta pegar o déficit contábil ou o déficit do fluxo de caixa. É preciso ir amarrando e lendo o relatório nos mínimos detalhes e fazer algumas pesquisas no contencioso (informação normalmente pública) para ter alguma idéia mais próxima do resultado.
Notem ainda que o goleiro Rodolfo está nas notas (um belo prejuízo de pelo menos $827 mil, fora salários). Se o atleta sair antes do fim do seu contrato, esses valores no intangível precisam ser levados ao resultado imediatamente.
Mas como a cada contratação, você pode diferir todos os custos (diretos e de intermediação), o saldo fica nessa de subir constantemente, ainda mais com as transferências da base por idade.
Finalizando, essa nota é muito boa para mostrar a todos que não existe isso de jogador vir sem custos. Vejam o caso do Ganso, $1.5mi em intermediação.
STs