Essa edição #DARKSiDEFLUCONOMiCS traz algumas reflexões sobre O RELATÓRIO ANUAL DE 2021 do Fluminense, em especial sobre a MENSAGEM DO PRESIDENTE.
UM DESABAFO
Torcer pelo Fluminense se transformou num ato de fé em todos os sentidos. Mas não estou romantizando o martírio de acompanhar um time há anos irregular e sem títulos expressivos; estou fazendo uma abordagem jocosa.
São onze anos ininterruptos onde uma opacidade sem fim que vem nos obrigando a conviver com dogmas.
Dogma é o princípio que se convenciona não discutir e, muitas vezes, que não se aceita discussão. Uma doutrina dogmática é um sistema oficial de princípios que devem ser aceitos tais como são, sem discussão. (Wikipedia)
Gestões austeras, planos de saneamento, superávits, sofrer para ter ganhos no futuro, um processo de reconstrução contínuo, enfim, um Novo Fluminense que nunca chega. Onze anos e estamos a cada dia piores.
Não serei leviano e não limitarei nosso processo de destruição a esse período a partir de 2011. O Fluminense vem sendo destruído há décadas.
Nos últimos 30 anos o noticiário, guardada as devidas proporções, trata dos mesmos temas: formar uma SA, reformar Laranjeiras, construir um novo estádio, separar o clube do futebol, mudar estatuto, associação em massa como solução para a penúria, crises financeiras gravíssimas, etc…
Mas esses onze últimos anos tem requintes de crueldade.
Toda aquela massa de torcedores críticos, que execravam a gestão Horcades, fiscalizando-a 24h por dia, 360 dias por ano, gradativamente foi se tornando num braço inquisitório na defesa de dogmas, ou, para gerações mais recentes, canceladores, patrulhando toda e qualquer crítica e colocando uma horda de imprestáveis para avacalhar e achincalhar qualquer pessoa que colocasse em dúvida o discurso oficial das gestões.
Não é mera coincidência que isso tudo teve origem a partir do momento que as gestões passaram a contar com marketeirosestrategistas em seus quadros. Esforço e método para blindar presidentes, no mínimo, totalmente incompetentes do ponto de vista gestão, mas extremamente habilidosos nos meandros da política rasa e vil de modelos associativos de clubes de futebol, sobretudo na arte de manipulação através da MSM e redes sociais.
OS SETE PECADOS CAPITAIS
Por mais paradoxal que seja, resolvi usar os sete capitais como referência nessa tentativa de desconstrução dos principais dogmas. Fazer a cobra sentir o gosto do seu próprio veneno.
Os sete pecados capitais foram criados quase 400 anos após a crucificação. Eram referências a “culpas e paixões humanas” que não interessavam muito ao status quo. Como tudo que é nocivo a liberdade e ao livre arbítrio acaba sendo aperfeiçoado e sofisticado, os pecados acabaram sendo formalizados no século VI, pelo Papa Gregório I. A lista seria reformada mais uma vez no século XVII, por Tomás de Aquino.
A finalidade desses pecados capitais sempre foi ajudar as pessoas a refrear suas más inclinações antes que pudessem padecer dos seus próprios pecados e prejudicar todos a sua volta .
O carro chefe disso tudo era o orgulho, que é considerado o pecado que separa a alma da graça e é a própria essência do mal e da ganância, ambos subjacentes aos outros pecados. Um discurso para lá de prolixo que visava sobretudo pavimentar um caminho de submissão a dogmas e criar um irrestrito ambiente de subserviência.
SUPERBIA
Originalmente o pecado foi nominado como soberba, mas ao longo do processo que descrevi rapidamente, passaram a utilizar a palavra orgulho. Jogos semânticos de alto impacto no processo de manipulação sobre massas carentes de conhecimento, o que é uma constante desde que o homem abandou as cavernas e, supostamente, evoluiu.
Dogmas são incontestáveis e você não pode ter a soberba de afrontá-los, pelo menos na cabeça de manipuladores compulsivos. Uma completa inversão de valores, principalmente quando partem da criatura nefasta que lança os dogmas.
Soberba é uma manifestação de orgulho, de pretensão, de superioridade sobre as outras pessoas. É a arrogância, a altivez, a autoconfiança exagerada.
Nessa dinâmica de narrativas e contra-narrativas que é a vida desde os primórdios da civilização, ambos os lados podem acusar os outros de soberbos. O caminho da razão exige que sejam aplicados métodos investigativos e analíticos para arbitrar qual das narrativas apresentadas tem nexo com a realidade. A racionalidade antagoniza com a fé.
A atual liderança me parece megalomaníaca, pretensa a se vender como messiânica e abusa no quesito de faltar com a verdade dos fatos.
Terei a “soberba” de afrontar todos seus dogmas nessa edição, pois me senti profundamente ofendido ao ler somente os três primeiros parágrafos da mensagem do presidente:
AVANTIA
Vamos ao significado de avareza:
Avareza é um substantivo feminino que significa apego demasiado e sórdido ao dinheiro. É o desejo ardente de acumular riqueza. Avareza é a falta de generosidade é a mesquinhez, a sovinice, a insignificância e miserabilidade.
A avareza explica com exatidão o apego a um modelo associativo notoriamente incapaz de entregar bons resultados dentro e fora de campo.
E esse apego origina os dogmas, que no caso em estudo, tem esse tripé completamente falacioso de CREDIBILIDADE, ESTABILIDADE E AUSTERIDADE. E a falácia, dessa vez, ainda foi “mensurada”:
A começar pelas finanças, pois apesar de todo o impacto da pandemia obtivemos superávit de R$ 22 milhões em nosso resultado operacional. Ou seja, o Fluminense teria dado lucro, se não fosse pela enorme pressão das dívidas do passado.
Uma infâmia que não se sustenta com quinze minutos de análise sobre os demonstrativos disponibilizados, conciliando a falaciosa posição contábil com o fluxo de caixa:
Eu não vou entrar em muitos detalhes sobre os saldos nesse momento, nem na parte que alegam que tudo seja do passado. Isso será objeto de revisão e análise nas próximas edições da #DARKSiDE. Vários saldos merecem uma revisão com lupa e muita paciência. A artimanha de culpar o passado já foi discutida na edição 47 recentemente.
A real situação é diametralmente oposta ao discurso da mensagem enviada. E pode ser ainda maior, pois a base de superavit contábil operacional é inflada pela capitalização no intangível dos custos de formação. Gastos que são incorridos mas não são levados a resultado imediatamente, indicando nada mais nada menos que mais 18.8 milhões de adições em atletas em formação:
Confirmados como capitalizados na própria demonstração do FLUXO DE CAIXA:
Extraído da Demonstração dos fluxos de caixa – DFs FFC 2021
É necessário trazer a abordagem que foi apresentada ontem, pela enésima vez, no Twitter:
Ela subsidiará a apresentação do próximo “pecado capital”.
IRA
A abordagem pelo regime de caixa é pior dos pesadelos do gestor amador mitômano, pois os tira da zona de conforto, desconstroem suas narrativas, os expõem e os enervam. Não podemos dar refresco aqueles que insistem em destruir nossas paixões e ainda tem a petulância de “vender” que fazem o oposto.
Essa é posição de caixa consolidada em 2021:
Notem que, ao contrário do que ocorre no discurso da mensagem do presidente, a “narrativa” da newsletter, baseada em análises sobre os próprios números divulgados pelo gestor, convergem e se sustentam.
A conciliação do superávit contábil com o fluxo de caixa, acrescida da “pernada” dos 18.8 milhões, totalizam 70.1 milhões dos 70.8 milhões do escandaloso e temerário déficit de caixa apurado em 2021. 99% do valor do déficit real foi analisado e comprovado em poucos minutos.
LUXURIA
É hora de falar sobre tal austeridade e até mesmo da credibilidade que o gestor julga ter. Isso tudo cai como uma luva na parte sobre a luxúria.
A luxúria (do latim luxuria) é o desejo passional e egoísta por todo o prazer sensual e material. Também pode ser entendido em seu sentido original: “deixar-se dominar pelas paixões”. Consiste no apego aos prazeres carnais, corrupção de costumes; sexualidade extrema, lascívia e sensualidade.
Eu preparei um quadro bem simples a partir da receita e despesas, considerando itens monetários.
Assim, excluí da receita a parte não realizada, pois os valores não foram recebidos em caixa. Em outras palavras, é receita que ainda não existe e que não deve ser consumida, caso contrário criam-se déficits de caixa (demonstrado exaustivamente acima) que precisam ser financiados e isso tudo tem um custo bem elevado.
Também desconsiderei as despesas que são apropriações contábeis, como depreciações, amortizações e provisionamento de novas contingências (sim, o austero e diligente dirigente formou novas contingências em 2022).
O resultado foi esse aqui:
Os números ainda são inflados de alguma forma, tanto na receita como na despesa, pelas permutas e parcerias, mas em termos contábeis e de fluxo, elas se anulam.
Eu vos pergunto: como há austeridade se todos os gastos tem incrementos nominais e relativos?
Como há austeridade se o déficit de caixa aumentou em mais de 65% de um ano para o outro?
Um incremento de mais de 28 milhões em excessos de gastos, em comparação ao caótico ano de 2020 e seus 42.7 milhões de gastos excessivos a receita realizada:
INVIDIA
A mensagem começa se vangloriando da tão almejada conquista depois de 10 anos de jejum do deficitário e nada atrativo Carioca. Um belo indicativo que isso será um dos pilares de mais um estelionato eleitoral em curso e uma filosofia que nem é muito original no futebol carioca, que há um campeonato a parte a ser disputado contra o Flamengo.
O modelo associativo que pensava dessa forma, hoje está agarrado na série B e numa situação financeira caótica.
Qual o efeito prático dessa brilhante conquista em nossas vidas e no futuro do Fluminense? Eu diria que nenhum.
Vamos dar uma olhada nas posições de caixa consolidadas dos três clubes que estou mencionando nessa edição:
Comodamente, sempre se olha para receitas e as atrelam a capacidade de formar times mais competitivos. Mas o problema de caixa é infinitamente maior.
Vamos supor, que num passe de mágica ou de forma milagrosa, essa tendência de formar déficits de caixa seja interrompida. Já formamos de 2019 para cá, cerca de 124 milhões de déficit de caixa acumulado, está muito complicado enxergar algum tipo de reversão, mas vamos considerar essa hipótese utópica mesmo assim.
Comparem os volumes de investimentos que são feitos:
- Flamengo: 243,7 milhões em 2021 e fluxo de caixa líquido POSITIVO.
- Fluminense: 33,2 milhões, alavancado, num fluxo temerário ao extremo.
- Vasco: 17,3 milhões, pelo menos num contexto de fluxo de caixa positivo (gastaram menos do que arrecadaram, o que é o básico que não é feito no Fluminense desde 2019).
Estamos falando de volumes de investimento só de 2021.
Alguém realmente acha que será possível competir contra isso?
Vocês estão satisfeitos de ganhar um campeonato estadual a cada 10 anos e ver o rival nadar de braçada? Quem gere o Fluminense está, pois todas as ações consolidam a liderança e o poderio do Flamengo, ao nos imputar déficits de caixas crescentes e recorrentes. Não adianta reclamar de doping financeiro e não fazer seu dever de casa.
GULA
Vamos ao penúltimo pecado capital!
Gula significa excesso de indulgência e consumo excessivo de alimentos, bebidas ou itens de riqueza, principalmente como símbolos de status. No cristianismo, é considerado pecado se o desejo excessivo de comer faz com que seja negado aos necessitados.
Eu não vou falar dos quilos que o presidente ganhou de 2019 para cá.
Vou associar a gula ao consumo excessivo de cortinas de fumaça, narrativas, eventos extemporâneos, pautas combinadas e talvez até mesmo da criação de conflitos para tirar luz sobre nossos reais problemas e sobre toda fraqueza técnica desse discurso de CREDIBILIDADE, ESTABILIDADE E AUSTERIDADE.
Ontem foi anunciado, efusivamente, que o Fluminense realizou o pagamento da primeira parcela do RCE.
Nós vivemos sob a égide da opacidade, o que torna essas declarações e notícias nesses malditos dogmas que estamos discutindo nessa edição.
E apesar de achar que tem muita credibilidade, quando o gestor se pronuncia, a primeira reação é buscar validar a informação de forma independente.
Pois bem, o plano do RCE implica em pagamentos mensais de 1.5 milhões, já vimos isso na edição 52:
São pagamentos mensais de 1,5 milhão e um colchão negocial de mais 6 milhões por ano, totalizando os famosos 24 milhões, que eu não sei do onde vão tirar.
Desse valor mensal de 1,5 milhão, 1,2 milhão se destina a credores trabalhistas; 300 mil a credores cíveis.
Até o presente momento só foi localizado uma guia de 306 mil reais, referente a credores cíveis, acrescida de 2% de remuneração do administrador judicial.
Se fosse tão transparente como diz ser, não precisaria ser cobrado agora sobre o pagamento de 1,2 milhão.
Nem sobre como resolverá a remuneração de 2%, que acabou concordando em pagar, e que não é prevista no plano entregue a Justiça.
ACEDIA
Chegamos na preguiça, a meu ver, o maior de todos os pecados na analogia formulada nessa edição.
Vamos começar de trás para frente:
Quando anunciam pagamento de parcela de plano, ou até mesmo outros pagamentos, comos os de folha “sempre em dia”, qual motivo leva a todos aceitarem passivamente as informações?
O clube não é o mais transparente do universo?
O gestor não é diferenciado de todos os outros que ali estiveram?
Então, qual motivo para não cobrar transparência e exigir que as guias sejam postadas no Portal da Transparência? Ou apresentadas na coletiva/entrevista? Ou anexadas no press releases que são distribuídos e viram notícias assinadas com um singelo “Redação”?
E que tal indagar sobre o Plano de Pagamento do RCE?
Essa questão do administrador judicial, que estava em discussão, não foi orçada. Um problema potencial de mais de 8 milhões e agora superior a 4 milhões.
O plano em si foi tratado como dogma: há plano e ele será quitado em tempo recorde com um ágio descomunal. Verdade absoluta, inquestionável, não sejam petulantes de desconfiar de algo, afinal sempre entregamos tudo aquilo que prometemos.
Ninguém revisa e questiona premissas, verifica fluxos projetados, observa que eles inexistem para a maior parte do plano em si e, sobretudo, constata o óbvio: há uma incerteza absurda sobre a disponibilidade de recursos para quitar todos os acordos em curso.
A folha foi paga e está em dia! E o FGTS? Onde estão as guias e a CND?
E o problema relatado em 2020 sobre a exclusão parcial decorrente de não recolhimento de FGTS? Quando isso será endereçado por mídia, conselhos e tudo mais? A questão da exclusão do PROFUT consta NOVAMENTE no relatório anual, está na página 26:
Uma página que 99.9% sequer sabe que existe em virtude de uma preguiça hedionda em não querer se informar direito. Ou ignoram a existência por pura má fé e desonestidade intelectual.
É o segundo ano onde se fala no tal plano de ação, não se atualiza status de nada relativo a PROFUT, enfim, tudo a mesma porcaria informacional de sempre, exceto pelo fato que isso virou uma RESSALVA na opinião do auditor independente:
E parágrafo de ênfase:
Até quando continuaremos sem explicações?
E afinal, como é construída toda essa “credibilidade” onde acatam todas as narrativas se falta accountability?
Será que é mesmo só preguiça?
A preguiça não terá morada nessa iniciativa.
Muito menos acatarei tudo como se fossem dogmas.
Até a próxima!