Na primeira vez que li esse livro, quando ele chegou traduzido ao Brasil uns 10 anos atrás, fiquei pensando que se tratava de um belo projeto de endomarketing. Um projeto exitoso, afinal Ferran seguiu progredindo no mercado da bola e hoje comanda um dos playersmais relevantes.
Naquele momento eu já tinha uma experiência profissional razoável e bastante eclética, que incluia milhares de horas de auditoria, consultoria e investigação em alguns dos maiores clubes de futebol do Brasil. E sempre me perguntava ao ler o livro se o Ferran teria êxito em clubes brasileiros, mesmo com um algum tipo de mecenato nas costas.
Uns dois meses atrás eu resolvi reler o livro, e motivado por todo esse imbróglio de Superliga da Europa e outros estudos sobre mecenatos no futebol europeu, comecei a rascunhar um longo texto, ainda inacabado.
Estava fazendo isso até para “implicar” com um velho combatente de guerra do universo tricolor, que no melhor estilo Abel de ser, é “maravilhado” com essa obra de endomarketing. Um debate sadio entre duas pessoas que pensam diferente em diversos aspectos, mas que se respeitam, após um início conturbado. Também já escrevi sobre isso por aqui, alguns dos melhores relacionamentos pessoais nascem a partir de conflitos. A franqueza é algo que eu admiro nas pessoas. Ninguém precisa pensar como eu, podem me contradizer de forma enérgica e exagerada, mas enquanto houver respeito entre as partes, as coisas fluem de forma satisfatória e todos progredimos.
Como eu também já escrevi em alguma edição anterior, “a vida é um conjunto de acidentes interligados”, e acabei surpreendido no meio da elaboração dessa resenha com declarações do presidente do Fluminense acerca da obra e como ela o inspira na sua gestão supostamente transformadora.
A thread original sobre a A BOLA NÃO ENTRA POR ACASO não será publicada por aqui, mas depois dessa declaração, resolvi aproveitar e fazer um adendo na FLUCONOMiCS, comparando a obra com o discurso e a prática da atual gestão do Fluminense.
Em tempo, o livro não é de 2013, é de 2009. Ele foi traduzido para português um ano depois, em 2010. Não imagino de onde nosso amado presidente ou o pessoal do Globo Esporte tirou que ele é de 2013. Vantagens de não ser monoglota e saber checar declarações.
Se isso acontecesse numa entrevista investigativa, eu sairia com a impressão de que a pessoa não leu livro, pois ao mesmo tempo que erra a data, “crava” dados irrelevantes com o intuito de transparecer que realmente fez aquilo. Quem decora a quantidade de páginas de um livro? Qual a utilidade disso? Fica a impressão de um discurso previamente construído, vulgarmente conhecido como narrativa.
A ideia central é avaliar a narrativa da obra e confrontá-la com algumas situações, desde o uso do discurso vazio da profissionalização dos clubes, até o fato de você prosperar em termos de gestão porque está nadando em dinheiro, ou até que ponto os ensinamentos de Soriano se aplicam a uma realidade oposta a que os clubes de gestões amadoras tupiniquins estão inseridos.
Propositalmente eu vou começar a publicar isso com um bom intervalo de tempo. É preciso ser paciente e cirúrgico. A essa altura, o tema terá sido comprado pela maioria e reverberado até não poder mais. E quem pretendia criticá-lo dentro do jogo político do modelo associativo, já o fez. Chega de servir de escada para grupos de oposição ou servir de gasolina em incêndio de treta em trending topics do Twitter. Assim provarei mais uma vez que o modelo associativo e seu jogo político destroem o Fluminense. Quem comprou um discurso vazio, será desmascarado, quem não teve garrafa para vender na crítica, também acaba inabilitado ao se colocar como opção a gestão. É o famoso xeque-mate.
Vamos a thread, que será publicada, como de costume, em várias partes. Não sei precisar a periodicidade, pois é preciso organizar os múltiplos temas que temos abordado por aqui. Mas tenho uma boa notícia, a maioria das edições serão de acesso irrestrito.
Antes que alguém fique “#chatiado”:
“Não se olvide que a liberdade de expressão (de informar, de criticar, etc.) é um dos pilares centrais de uma sociedade democrática. A livre manifestação do pensamento é garantia constitucional, devendo ser assegurada em toda sua plenitude, nos vários veículos de comunicação, inclusive nas redes sociais”, me permitindo uma única alteração: Revue, “no caso concreto”.
No texto original de onde isso foi extraído, ainda há uma nota de rodapé usada:
“A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.” (Art, 220, caput, Constituição da República)‘.
Como diria meu guru Nelson Rodrigues: “Não há admiração mais deliciosa do que a do inimigo.”
STs