Eleições fazem parte dos nossos probelmas de gestão e sobretudo os financeiros. Não há como disassociar uma coisa de outra.
Em 4 edições tratarei desse tema com vocês. Vamos começar bem de leve, entendo sua evolução ao longo da história recente.
Numa perspectiva histórica, o processo eleitoral do Fluminense tem três fases distintas.
Um modelo que prevaleceu até a eleição de 2007, onde pouquíssimas pessoas, dividas entre meia dúzia de grupos políticos muito mal organizados, se acertavam de tempo em tempo e elegiam um novo conselho diretor.
Embora tenham ocorrido crises homéricas nesse modelo na década de 80 e principalmente na de 90, fruto de acirradas disputas de poder entre velhos e novos grupos políticos, agravada por falta de dinheiro, era tudo extremamente amador.
Há um termo, usado pejorativamente, que é perfeito para explicar o que era uma eleição no Fluminense: um convescote.
Não era de todo ruim como vendem atualmente em blogs, portais e redes sociais. Presidente que negligenciava e/ou sabotava o futebol tricolor, era tirado até na base do sacode. Mas nos tornarmos mais civilizados, vida que segue.
Na sequência observamos um segundo modelo, de transição entre o amadorismo e o profissionalismo eleitoral, em 2010, impulsionado pelo famoso processo de associação em massa que foi divulgado e reverberado pelo Pavilhão Tricolor, mas operacionalizado de fato pela FLUSÓCIO.
A ideia da associação em massa foi gestacionada enquanto todos eram uma coisa só: internautas tricolores, divididos entre fóruns e grupos de email, sofrendo com acesso discado. De certa forma rivalizavam com sócios tenistas, “piscineiros”, “sauneiros”, “turmado paquinho” e atletas amadores.
Hoje assistimos esses videos inflamados e lives onde alguns chegam a chorar de raiva, defendendo a separação do clube social e esportes amadores do futebol profissional, mas essa discussão já existe desde a década de 90. Ela é até anterior dentro do modelo, mas virou essa cavalo de batalha com a chegada da internet. Décadas de discussão e nada mudou.
Com o surgimento de redes sociais, obviamente começaram as brigas e as rivalidades online entre esses novos grupos, a essa altura infiltrados com várias pessoas da política tricolor do tempo do sinal de fumaça.
Essa eleição, que criou a primeira versão do famigerado termo “Novo Fluminense”, instituiu um dos maiores males modernos do modelo associativo. Os presidentes passaram a ter um(a) marketeiro(a) a sua disposição 24 horas por dia, 7 dias da semana, 365 dias por ano. Ou um estrategista, para não melindrar a pessoa que inaugurou essa era de gestões em campanha permanente.
A eleição de 2010 acabou tarde da noite e no dia seguinte já se pensava em 2013. E assim vem sendo desde então. O marketeiro/estrategista pode ocupar a vaga de superintendente, de diretor de comunicação ou simplesmente co-dirigir o “marketing”. Estava instituído o terceiro e atual modelo.
Pessoalmente, eu tenho uma visão bem peculiar sobre isso tudo e vou compartilhá-la com vocês.
O que há em comum nesses 3 modelos?
O sucesso eleitoral de qualquer chapa envolve composições entre velhos e novos grupos. Nas edições seguintes vou me aprofundar em como o Estatuto, modificado inúmeras vezes a partir da criação do “Novo Fluminense”, acaba exigindo que a chapa vencedora seja fruto de uma simbiose do tipo comensalismo, sob a ótica das estruturas de poder. Como já publiquei nas edições 5 e 6, a relação do modelo associativo e o futebol profissional se tornou puro parasitismo.
Se ainda decidimos as eleições através de arranjos entre grupos, porque migramos para o terceiro tipo de modelo em campanha permanente?
Basicamente em função do Fluminense ter cerca de 200-300 milhões de entrada de caixa por ano, o que não existia nas duas fases anteriores. Dinheiro explica praticamente tudo na vida.
Dois fenômenos imediatos surgem dessa montanha de recursos anuais: o das disputas internas e o da atratividade a novos entrantes no modelo e jogo do poder. O modelo de campanha permanente, cheio de narrativas, visa proteger os arranjos na divisão do bolo. Foi concebido para monitorar constantemente o projeto de poder.
É preciso gerir esses conflitos e tomar a frente da metralhadora giratória. Se internamente já faltam tetas para tantas bocas e isso cria crises constantes, com leaks na mídia, furos, reportagens bombásticas e lives comício, imaginem como o risco cresce com a formação de novos grupos. Quanto mais gente disputando o acesso ao poder, pior para o status quo.
Se há algo realmente profissional no Fluminense, é o esforço eleitoral.
Nós temos que dar o braço a torcer, eles são muito mais capazes que todos os críticos juntos, afinal, o modelo segue intacto. As pessoas se resignam a discutir nomes, se o voto será online ou não, se tem que mudar o estatuto para refletir melhor na composição do conselho deliberativo, etc…
Parte do sucesso é ter a caneta que administra essa centena de milhões, a ingressos de cortesia, camisas oficiais, enxoval dos atletas, voucher de pay per view. Isso facilita e muito a empreitada das campanhas permanentes.
Mas eles tem muito mérito. Gerem isso com sucesso, blindando o foco principal que seria questionar o modelo associativo em si.
Experimente criticar a existência do modelo e seu parasitismo que surgem hordas e mais hordas de defensores da tradição, da democracia, da taça olímpica, da história, e agora até mesmo do progressismo político e função social do Fluminense.
Até a próxima parte!
STs