“VOCÊ É QUE FINANCIA ESSA M!”…
O título dessa parte foi “chupado” de Tropa de Elite.
Ao longo da edição vocês perceberão o motivo.
Outro dia no Twitter, apareceu uma postagem indagando como era possível milhões de torcedores sucumbirem a uma panelinha dentro do clube e as transformações nunca ocorrerem.
Essa é uma questão muito simples de ser respondida e eu acredito que a maioria das pessoas se recusam a entender o mecanismo porque são seduzidas pelos inúmeros cantos da sereia do modelo associativo.
Vou replicar nessa edição e na próxima a minha resposta, numa versão ampliada e fundamentada no Estatuto. As pessoas precisam ler o estatuto do início ao fim, hoje em dia não devemos ter nem 12 pessoas que já fizeram isso uma vez na vida. A imensa maioria sequer sabe onde encontrar o estatuto na internet.
Para ter direito a voto, um sócio contribuinte ou proprietário precisa financiar o modelo por 12 meses. No caso do proprietário, com taxa de manutenção reduzida, ainda há a exigência do aporte na compra ou transferência do título.
Um sócio futebol precisa contribuir por 24 meses e aqui ainda há uma armadilha estatutária que pode servir de plano de contingência para o status quo. São tantos erros e omissões ao mesmo tempo que é impossível não achar que tudo é proposital. Chegaremos lá.
Os cabeças da chapa precisam pagar 60 meses de sócio contribuinte ou manutenção reduzida de sócio proprietário, mais luvas (jóias) de adesão.
Esses prazos foram concebidos objetivando impedir a ação eleitoral de aventureiros, o que à primeira vista faz até algum sentido. Mas nada na vida parece ser como transparece, quando envolve poder e dinheiro.
O torcedor que se associa para poder votar e concorrer, em 99% dos casos, é extremamente passional. Se o time vai mal, contrata mal, renova mal, se a gestão resolve lacrar ou até mesmo se a gestão resolve agredir quem reclama, o efeito prático é a suspensão da contribuição e cancelamento do plano.
Muita gente fica pelo caminho ao longo desses 12-24 meses e assim e a composição do colégio eleitoral não é alterada na prática. Ultimamente tem ocorrido até cortes mensais de centenas de sócios por problemas de processamento de pagamentos e a gente nem sabe se são só desistências, erros ou ocorre algum dolo.
Os grupos políticos do modelo associativo entendem que a solução para isso seja maior engajamento e resiliência, mas aí entra a parte mais pernóstica desse processo.
Tudo que aportar com receita no clube via associação e consumo (produtos, TV e bilheteria) será usado contra quem anseia mudanças. Há financiamento direto justamente das pessoas que podem e irão sabotar qualquer esforço por mudanças no modelo associativo.
Enquanto os que sonham com transformações precisam arregimentar pessoas que desembolsem recursos por um longo tempo, sujeito a toda irritação que o status quo do modelo provoca e afeta a regularidade da contribuição, do outro lado ainda há a possiblidade de fabricar votos entre atletas, com todo esse custo “olímpico” sendo financiado justamente pelos que pagam e consomem, de forma para tentar uma mudança via eleições.
E o modelo emprega e gasta entre votantes e financiadores de campanha. A pessoa que anda por aí com camiseta, adesivo, bandeirinha e faz boca de urna, está financiando campanhas.
O modelo transaciona com uma infinidade de atores que tem ganhos expressivos explorando as mazelas administrativas, o amadorismo e a permanente asfixia financeira.
Não há regra no fétido processo eleitoral do Fluminense para prestar contas de campanhas eleitorais, indicando gastos (para um cargo não remunerado) e sobretudo apontando quem financia essas campanhas, que a cada ano ficam mais caras e mais longas.
Aquele valor que o sócio que anseia por mudanças aporta ou dá lastro (receita de TV e patrocínios), é potencializado na sabotagem pelas mudanças em função de muita gente que vive de Fluminense e das mazelas do seu modelo associativo.
O sócio que quer Futebol S.A./SAF, fica reclamando que a unidade de negócios olímpicos dá prejuízo. Alegam que ela dá prejuízo e é mantida por se tratar de curral eleitoral do status quo. Mas quem está financiando e dando lastro no que alegam ser uma compra de votos e o maior obstáculo para transformar o Fluminense? O sócio engajado que reclama.
E dentre os críticos, ainda há zona de sombra, altamente oportunista. Aqueles que usurparam o termo “modelo”, não para criticar a existência da associação e todo seu amadorismo que causa todos os nossos problemas. Criaram uma narrativa de alteração de modelo de gestão, surfando na onda da crítica histórica e consolidada ao modelo associativo.
É o famoso trocar seis por meia dúzia. Em seus discursos de clube só de futebol, fazem dezenas de bravatas que vão fechar tudo e concentrar esforços somente em futebol.
Nunca comentam que para descontinuar unidades de negócios é necessário indenizar todos os funcionários, indenizar todos os distratos contratuais (dezenas de PJs, alguns deles com certeza pleitearão equiparação a CLT na Justiça do Trabalho). Dezenas de milhões de reais envolvidos nessa operação. Não mensuram, não alertam, não falam de onde tirarão recursos para essas mudanças.
No fim do dia, estaríamos trocando amadores nocivos as finanças e a boa gestão por novos amadores potencialmente mais nocivos. Ou de forma mais contundente, mudando as moscas.
Também se nota nesses grupos que vendem a transformação como pauta eleitoral, aqueles que enxergaram que o modelo jamais será suplantado eleitoralmente. Aí adotam uma narrativa antiga e extremamente falaciosa de chinese wall entre as unidades de negócios, como se isso mudasse o fato de os olímpicos serem deficitários ad eternum e o CNPJ ser o mesmo para todas as unidades.
E voltando ao que discutimos no início dessa edição, o discurso de mudança já faz parte, de forma recorrente, das pautas de potenciais estelionatos eleitorais. Isso impacta na regularidade e adimplência de um contingente que enxergue o Flu como atividade fim e não como meio. Impacta sobretudo em trazer pessoas capazes e sérias para dentro de um projeto de transformação.
Não é à toa que o nosso processo eleitoral está repleto de personagens da política pública, num Estado onde a maioria dos ex-governadores já foi preso, meio mundo tem processos por improbidade nas costas, suspeitas de corrupção, nome em lista de propina de empreiteira. Acreditar que essas pessoas irão transformar o Flu? Basta ver no que se tornou o Estado do Rio e a capital.
Todas as batalhas dentro do modelo associativo estão fadadas ao fracasso.
Temos décadas de experiência que comprovam que a frase anterior não é um exagero, não é panfletária nem fruto de “ódio”. É a vida como ela é, dentro de qualquer clube de futebol com modelo associativo.
O único modelo associativo que prosperou sem mecenato constante, foi o do clube com doping financeiro. Com um rio de dinheiro, de forma constante e não pontual (não muda nada aportar 200-300 milhões no clube numa gestão, é preciso 200-300 milhões por vários anos), é mole. E saindo dinheiro pelo ladrão, qualquer narrativa é abraçada pela mídia e vira verdade absoluta. Se até um clube insolvente consegue enganar as pessoas com ajuda da mídia, imagina um podre de rico com receitas bilionárias anuais.
Eles também perdem milhões nas suas unidades de negócios que influenciam suas eleições. Basta ler os balanços. Mas dinheiro e sucesso esportivo fazem as pessoas ignorarem isso, em qualquer clube. As pautas negativas e críticas só surgem nas eliminações e quando times estão próximos de Z4.
Espero que vocês tenham finalmente entendido que é inerente a todo e qualquer modelo associativo esse tipo de mazela. E que ao longo de décadas, nunca se conseguiu acabar com isso. Na próxima edição vou trazer o Estatuto para o debate.