LEIAM O ESTATUTO… (1/2)
É hora de mostrar como o Estatuto foi concebido para perenizar o modelo social.
Há questões estatutárias milimetricamente planejadas para manter o status quo. E toda e qualquer mudança é controlada por aqueles que vocês anseiam em expulsar da vida do clube.
Qual a estratégia das pessoas que “querem mudar o modelo” de dentro para fora, ou mudar o modelo usando as regras do modelo?
- Associação em massa, dentro dos prazos de carência para ter direito a voto (que estão terminando para sócio contribuinte e proprietário e já expiraram para sócios futebol);
- Associação ou engajamento de pessoas dispostas a formar chapa que objetive um Fluminense 100% dedicado ao futebol (há um abismo entre se associar para votar e pessoas que assinem a chapas, não me perguntem o motivo, mas acontece de forma regular);
- Resiliência para se manter adimplente até o pleito;
- Resiliência para se manter adimplente até a votação de mudanças estatutárias; e
- Resiliência eterna para evitar que os grupos derrotados se reorganizem, vençam a eleição seguinte e desfaçam tudo que foi feito.
Entre o item 4 e 5, eles acham que pode ser realizada uma “auditoria” e que isso fomentaria o processo de transformação. Trato dessa promessa vazia ou ilusão na THREAD do Guia. O desconhecimento técnico nessa parte do plano é assustador.
Vamos ao estatuto, item por item.
Vocês podem achar o Estatuto na íntegra nesse link.
O Capítulo V trata da assembleia geral, ou em português mais claro, quem pode votar nas eleições do Fluminense. É daqui que eu tirei os prazos de carência citados na edição anterior da thread sobre eleições.
A leitura do artigo 9º nos obriga a achar no Estatuto todas as categoria de sócios, lá no Capítulo XII:
Aplicando as restrições do parágrafo único do Artigo 9º, podem participar da Assembleia Geral: titulados, proprietários, remidos, contribuintes e sócios futebol.
O que seriam sócios titulados? Aqui começa a criação dos feudos com seus currais eleitorais:
Lembram que eu falei o modelo associativo tem meios de criar votantes?
Na base de sócios aptos a votar na irregular eleição antecipada de 2019, tínhamos a seguinte situação:
- 1 atleta laureado
- 48 beneméritos
- 56 beneméritos atletas
- 12 grandes beneméritos
- 16 grandes beneméritos atletas
133 votos. 3281 pessoas votaram, eles representariam 4%.
Vamos a composição dos sócios contribuintes (seção X):
Nessa categoria, só idade e inadimplência inabilitam sócios de votarem.
Como era esse contingente de votos em 2019?
- Sócios-atletas efetivos: 268
- Sócios-atletas 50% habilitados: 4
- Sócios-atletas juvenis com mais de 16 anos: 7
Perceberam como a narrativa exagera no poder eleitoral na unidade de negócios olímpicos? Se todos apareceram para votar, estamos falando de cerca de 12% dos votos.
É preciso jogar luz em quem formula as críticas e se aproveita de análises para construir narrativas com segundas intenções.
Em 2019 a categoria de contribuintes contava com um total de 6.717 sócios que poderiam votar, contra um contingente olímpico de 412 votantes. Para cada olímpico, temos cerca de 16 sócios da sede.
É muito complicado fazer um breakdown dos demais 6.438 não atletas, mas de uma forma empírica, não é exagero entender que a maioria desse contingente se opõe a mudanças em direção a um clube empresa só focado no futebol.
Por razões óbvias: se o processo de reestruturação se inicia com o fim da unidade olímpicos em razão deles serem deficitários, o passo seguinte, obrigatoriamente, passaria para equacionar os déficits da unidade de negócios social/sede. Teríamos alguns cenários que eles vislumbram com extrema facilidade e se defenderão em conjunto com os olímpicos: fim das atividades sociais, deterioração delas por não alocação prioritária de recursos, ou então um incremento no valor das mensalidades.
Se esse contingente fosse propenso as alterações que vocês anseiam, elas já teriam ocorrido, bem antes do surgimento do sócio-futebol. A pauta de clube empresa/futebol SA remonta a década de 90. Júlio Bueno, na eleição de 2010, tinha uma linda apresentação de transformação do Fluminense em futebol empresa, até preservando as demais unidades de negócio. Peter 1.736 x 861 Bueno. Reflitam.
Peter que ao longo de 2007 e 2010 chegou a defender com unhas e dentes esse processo de criação de futebol SA e separação das contas do social e olímpico. Não fez nada nesse sentido, se aliou aos olímpicos e a sede para se eleger. 3 anos depois se reelegeu com 1939 votos contra 489 do ex-jogador Deley. Os déficits sociais e olímpicos dessa reeleição estão na minha timeline do twitter.
Na #DARSiDENATL mostrei para vocês (blocos 8, 9 e 10) como os resultados apurados em unidades de negócios variam conforme as necessidades políticas.
Mas aqui cabe um questionamento: se olímpicos precisam ser descontinuados em função dos déficits, qual a razão dos grupos políticos não pleitearem o mesmo quanto a unidade de negócios da sede? Notem que historicamente eram déficits bem maiores.
Será que a seletividade se origina no fato dos grupos estarem repletos de sócios que pagam uma mixuracagem e tem acesso e sonham em gerir receitas anuais de até 300 milhões, negociações, jóias da base, etc? Muitas dessas pessoas que na sua vida fora do clube jamais teriam a acesso a esse nível de comando e orçamento anual?
Não há racionalidade alguma em defender o fim de uma unidade e fazer cara de paisagem para a outra. Ambas são deficitárias ao longo do tempo.
Continuando, na seção XV temos o Sócio-Futebol. Aqui reside uma bomba-relógio, o tal plano de contingência que mencionei na edição anterior, fora diversas armadilhas de defesa do modelo (algumas perdidas em outras partes do Estatuto):
Tudo é feito para alijar o direito de sócio-futebol. Vai muito além da eleição ser online ou não.
Há a questão da inadimplência e desses cortes que muita gente vem reclamando. Expulsa, readesão, recomeça a contar a carência.
Se mudar de categoria, perde o tempo anterior como SF. Novamente zera a carência.
O sócio-futebol não pode ser presidente, nem vice. Está lá, bem claro no estatuto. E também não pode fazer parte do conselho, vide capítulo VI.
As informações são espalhadas, e isso é ótimo para enganar as pessos, que não tem hábita de ler nada do início ao fim.
E temos o plano de contingência no terceiro parágrafo: 25% da taxa mensal cobrada ao contribuinte.
A taxa do sócio contribuinte, segundo o site, é de R$171,40.
25% desse valor representa R$42,85.
Temos planos de R$35 para baixo.
A luz do Estatuto, esses sócios-futebol não estão em conformidade, há margem de sobra para entender que eles não tenham direito a voto, porque o regulamento de adesão deixa claro a todo momento que o Estatuto é soberano.
Podemos ter um problema de direito do consumidor nisso tudo, mas direito a voto, online ou não, é muito duvidoso e altamente questionável. Saberemos se os valores cobrados a menor são originários do enésimo erro de gestões amadoras quando os sócios-futebol elegerem algo diferente do desejado pelo status quo. Ou se isso tudo é proposital (plano de contingência).
Notem como a discussão do voto online começa a se tornar irrelevante. Já era totalmente irrelevante frente ao quadro financeiro (insolvência não espera eleição), mas até dentro do contexto das regras do modelo, não estão fazendo o dever de casa direito.
Em 2019 existiam 5.485 sócios futebol que poderiam votar. No total, tivemos 3.281 votos, com a chapa vencedora repleta de figurinhas carimbadas de todas as unidades de negócio deficitárias. Eles não apareceram. Como também não aparecerem em 2016. Isso ocorre só por falta de voto online? Não sei. Mas sei que se aparecerem, e ganharem, existirão questionamentos.
Como o próprio voto online é “judicializável”. Não tratarei desse tema nessa thread, afeta a maioria dos clubes brasileiros e como eu não sou fã de eleições, não vou comprar essa briga.
Então, temos esse mundo de problemas e num cenário super otimista, os que anseiam pelas mudanças ganharam a eleição.
O que o Estatuto fala sobre seus projetos? Como seriam aprovados? Qual o quórum a ser atingido e a quantidade de votos?
Nos vemos na parte 4!