Após a bomba atômica contra a reeleição do atual presidente ter sido reduzida a um estalinho, é preciso aprofundar uma vez mais todo esse processo eleitoral e confrontá-lo com a caótica situação financeira do Fluminense.
Fluminense 2023-2025
Se uma pessoa realmente passou os últimos anos estudando os balanços e os processos do clube, observando e até mesmo vivenciando o modus operandis do modelo e entendendo toda dinâmica perniciosa desse famigerado Estatuto, a decisão racional é não se candidatar.
Não que o fato de desistir do pleito torne alguém racional de fato. A luz da razão, o correto é nem participar do modelo associativo, pois cada real pago, alimenta o sistema. O opositor financia o jogo político, dá lastro para as contratações estranhas e todo mundo de comissões e honorários. Literalmente dá um cheque em branco para o gestor sem ter quase nada em troca.
Mas quem se coloca como candidato tem que ter em mente que vai enfrentar desafios complexos. Muitas vezes fica a impressão que as próprias candidaturas refletem a ignorância dos postulantes, ou, no pior cenário, segundas intenções, afinal, algo que exige dedicação integral e não é remunerado, gera uma infinidade de suspeitas, ainda mais num ambiente sem controles e que o dinheiro perde o rastro com contratos de serviços profissionais, honorários e comissões diversas.
É inadmissível que existam candidatos que não tenham diagnósticos prontos sobre o estado de pré-insolvência do Fluminense, tampouco planos de ações realistas, fontes de financiamento e receita alinhavados. Entrar para ver como está e aí começar a tentar resolver é amadorismo puro. Ou oportunismo.
E se você tem um diagnóstico e fontes de recursos, o mais sábio é ficar longe da eleição, como veremos adiante.
A CAÓTICA SITUAÇÃO FINANCEIRA
Esse próximo triênio será pautado pelos efeitos de uma dívida crescente, um déficit de caixa cada vez maior e pela salgada conta do futebol bonito que não ganhou nada.
A questão da inadimplência de FGTS, um problema histórico, segue sendo agravada, com efeitos extremamente nocivos sobre o PROFUT.
Além do PROFUT, existem outros diversos parcelamentos feitos que não tem como ser cumpridos por falta de caixa e até mesmo as receitas extraordinárias nas janelas de transferência começaram a refletir o declínio técnico originário do longo estado de pré-insolvência.
Os poucos talentos de fato chamam a atenção de clubes europeus de 2a linha, ou das compras no atacado de MCOs. Transações com valores cada vez mais baixos e saídas precoces. Não se ganha mais dinheiro de verdade, muito menos se usufrui esportivamente dos poucos talentos que despontam.
A narrativa de fábrica de craques depara com uma realidade sombria, onde a falta de recurso já reflete negativamente até mesmo na captação de jovens jogadores. Demais clubes fazendo vendas muito mais volumosas e sobretudo recebendo dezenas de milhões nas revendas de suas joias. E o Fluminense recebendo uns trocados, comparativamente falando.
Os atuais contratos de TV vem sofrendo alguns efeitos que sempre foram totalmente previsíveis, como o derretimento do PPV, o colapso do produto “Campeonato Carioca”, e, futuramente, por estarmos nos opondo ao grupo dominante da Liga, vamos ficar com as sobras. No melhor cenário vamos viver no gap de 3.5x, que por si inviabiliza qualquer clube de competir com os clubes de ponta.
Há um crescimento da receita com sócio futebol, mas boa parte dos ganhos são perdidos no perdulário e caro Maracanã. Além disso, a moda de se satisfazer com futebol bonito sem títulos deve saturar rapidamente, esvaziando o programa, tanto no que tange a torcedores, como em especial nos cambistas que entraram para fazer ainda mais dinheiro usando os subsídios dados.
No lado das saídas de caixa, segue um mistério acintoso, afinal a atual gestão resolveu omitir toda e qualquer informação de custeio e despesa em 2022. Mas todo mundo sabe que contratos de 2 ou mais anos e compras de jogadores horrorosos causarão perdas homéricas.
O modelo em si consome muito dinheiro e em ano de eleição fica ainda mais ávido.
Ainda que num passe de mágica penhoras e bloqueios sejam evitados de alguma forma, é liquido e certo que faltará dinheiro para o oneroso custeio do Fluminense sob a égide do pernicioso modelo associativo.
O FAMIGERADO MODELO
O futuro presidente, além de ter que resolver esse deficit de caixa explosivo, ainda terá a resistência das pessoas que causam boa parte das perdas recorrentes ao futebol.
É preciso separar o futebol dos esportes olímpicos, mas esse grupo terá voz nos conselhos e no colégio eleitoral como um todo. Eles podem ter verbas próprias que custeiam suas atividades principais, mas o equipamento e sobretudo sua manutenção e custeio fica a reboque do clube e das receitas do futebol, nem que seja sob a ótica de financiamento.
É preciso readequar mensalidades ou até mesmo descontinuar as atividades sociais, mas mais uma vez são pessoas que terão representação nos conselhos e aparecerão para votar quando o colégio eleitoral for chamado para aprovar mudanças. Num ambiente onde predomina a busca por subsídios, alguém acredita que esses usuários votarão contra seus benefícios?
É preciso transformar o futebol em empresa, mas são essas mesmas pessoas, que usufruem das centenas de milhões de receitas do futebol para subsidio dos seus próprios interesses, que podem dar prosseguimento a luz do Estatuto e sobretudo aprovar mudanças.
Para cada 150 conselheiros eleitos, supostamente engajados com transformação, temos até 150 natos. E todos sabem que nesse grupo de 150 ou mais (se os natos não completarem todas as vagas), temos uma infinidade de palhaços que sequer aparecem nas reuniões e votações. Os conselheiros de “bio” de rede social, que tiram onda com os vizinhos e no trabalho, mas não exercem a função a qual se propuseram a cumprir por 3 anos. E dos poucos que aparecem com frequência, temos os fieis defensores da Instituição, que se omitem para “preservar o Fluminense”, sendo coniventes com as coisas erradas que acontecem, quando muito criando sindicâncias ou pedidos de investigação e esclarecimento que acabam em pizzas.
Se candidatar nesse quadro de asfixia financeira e resistência blindada por um estatuto que eterniza o parasitismo é algo totalmente irracional, até em função das cenas dos próximos capítulos!
2023-2025
É óbvio que o Fluminense terá que receber aportes para não fechar as portas. Existem várias formas disso acontecer.
A mais paupável é a opção de criação da SAF, sob o modelo híbrido. O famoso dinheiro novo que garantiria a sobrevivência do imprestável e nocivo modelo associativo, que seguiria sócio do futebol.
Existem outras opções de aporte ainda sob égide de um clube 100% modelo associativo. Todas elas totalmente comprometidas pelo risco de penhoras e bloqueios. Nem cabe muito estudo nesse sentido, falar em fases 1, 2 3 ou 4 num negócio sujeito a penhoras é patético, ou mera enrolação. Se estruturarem operações nesse sentido, o máximo que conseguirão no medio prazo é duplicar nossa dívida bilionária e finalmente fechar nossas portas.
E ainda que não tivéssemos o risco de penhora, que tipo de investidor colocaria dinheiro numa gestão que gera déficits de caixa anualmente de dezenas de milhões de reais?
Que tipo de investidor vê atratividade em revitalizar atividades sociais? Ou investir num negócio olímpico que nos melhor dos mundos só empata dinheiro?
Essa questão de SAF parece inexorável a essa altura, até para arrumar algum fôlego via moratória que a SAF proporciona temporariamente, ou até mesmo numa futura recuperação judicial.
E aqui reside o ponto central da pessoa ciente do tamanho do buraco do Fluminense e com recursos, próprios e/ou de terceiros pré-negociados, ficar fora da eleição.
O futebol, carro-chefe e razão da existência do Fluminense, ficará sob a tutela de quem aportar os recursos.
O presidente a ser eleito terá como trunfo, no máximo, conduzir a venda para determinado investidor (aqui reside o maior risco a nossa continuidade). Mas após aportes, será reduzido a uma rainha da Inglaterra.
É óbvio e ululante que o atual CDIR tentará, via aportes e negociações da SAF, perenizar seu poder, mas vamos ter uma espécie de leilão nas cenas dos próximos capítulos. A meu ver, estabelecer sociedade com esse modelo também é errado, mas os players dessa briga de cachorro grande de 2023-2025 já estão acostumados a fazer parte desse circo associativo. No fim do dia, ganhará quem tiver mais garrafa para vender.
Quem tem uma situação financeira bem definida desde sempre e não é um novo rico do futebol, e sobretudo quem está montando um rede de investidores de verdade e não fazendo essas associações comerciais de quinta categoria, tem muito mais chance de prosperar entre 2023-2025, independente de eleição, chapa, conselhos e tudo mais.
Quem tem relacionamento histórico com a instituição que conduzirá esse processo tem mais uma vantagem competitiva.
E não ser presidente ou fazer parte da chapa torna o processo futuro mais legítimo e lícito. E por não fazer parte, não terá que se comprometer com demandas do modelo associativo para apoios políticos. Poderá “tratorar” tudo aquilo que nos causam perdas.
Quem tem uma montanha de dinheiro pra tentar resgatar o Fluminense não pode fazer parte do modelo nem ter seus aportes postos em risco por causa do modelo.
Já o modelo associativo que quebrou o Fluminense terá que se submeter aos futuros investidores. Terão que abrir mão do controle pois foram totalmente inaptos na gestão de um negócio altamente lucrativo. Terão que se resignar e fazer uso da solidariedade e sucessão que os investidores lhe proporcionarão.
SA ANTES DE SAF
Mas eu sigo achando que SAF deveria vir após uma SA. Mas isso seria a solução ótima, inexequível dentro desse modelo associativo obtuso e com players que detém currais eleitorais que são notoriamente mal intencionados acerca do parasitismo no futebol.
Uma longa história, que após a eleição eu vou trazer para cá, exclusiva aos membros da Newsletter.
Até lá seguiremos vendo essa enrolação de programas de gestão que não passam de bullet points, chavões, propostas rasas com bases em reclamações ignorantes de redes sociais, promessas vazias de pessoas inexperientes e/ou não preparadas para lidar com o tamanho do problema que o Fluminense virou.
Divirtam-se com a brincadeira eleitoral, só acontece de 3 em 3 anos e talvez essa seja a última que eleja algum inapto com influência no nosso futebol.